terça-feira, 29 de outubro de 2013

Passarinho azul folheando meus pensamentos.

Poesia.

A poesia sou eu quebrada, destroçada, arranhada e exposta
mas a poesia mais do que eu é você
e aquele outro que ainda não vi
a poesia é um inteiro que não chego,
é o sentido robusto
que pode ser ignorado pelo oposto
A poesia é o resto de vida
o resto de algo,
que ficou no meu peito esquecido
na caixa, na correnteza
Grossa poesia!
Descarada e inutil
sem a qual sou nada.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

27.

Pois mar, nunca houve tanto punho para manter uma flor
Nunca se dispôs assim o pulso tão firme na mesa
das minhas palavras para dar-lhes alguma asa
Alguma leveza, alguma beleza...
Tempos de dentes cerrados,
A ilusão se aguando, se contorcendo
virando barroca, virando pó
eu pele e coração me retorcendo
em prosa para não escapar o que me resta
do sonho acordado, me endurecendo para não secar.
(...)
Vinte e sete mulheres acordadas
Outras números mil dormindo:
- Repousa minha criança,
que a resposta ainda não vêm.
Ressoa assim meu pesar
que pesa, mas que eleva.
Nunca fui figura realistica
meu drama é de tequila
dói, rasga, mas também cria
ainda que meu verso esteja fraco
ainda que meu canto esteja ralo
cria, já nem sei mais do filho que quis
Já desabei meus horizontes
Estou nua, nua de fé
nua de acaso,
nua de sorte,
nua de amor,
nua até para a morte.
Será agora o tempo de reconstruir?
Agora que o passado se fez presente e inexistente
agora que o amor bateu em minha porta e sumiu
que o futuro se desatou em espuma;
Eis me de pé,
Ancorada, seio, braço e coração,
Amando mais do que tudo
as sementes de ipê
e a esperança espirito
que queima fraco
mas me mantem de pé.



quarta-feira, 24 de julho de 2013

O tempo e os olhos.

Tempo me dê olhos
Antes do assombro final
Daquele ponto no percurso
Em que ponteiro se lembra
Que no peito ainda és pó.
(...)
E nesses olhos amansa
A crueza do efêmero
E traz para si o gosto
De estar vivo perante as estrelas
As matas arredias
 e aos olhos de quem amo
Despida em frio e gozo
Humana supondo-se

Eterna no fluxo vital da Unidade.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Mares.

As vezes eu encontro os mares
no silêncio tardio em mim
ondas rebeldes que se dissolvem efemeras e poéticas
em gostos brancos na areia,
areia, areia infinda da minha Alma
que te chama no oceano sem fronteiras de tempo...
é lágrima, é mar é fome do que é honesto...
é vela florida no vento... pedindo para voltar.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Atacado.

Existem milhões de coisas no mundo
milhões de coisas que não me interessam
mas o mundo em si me instiga
e o porque com tanta vida importante
nos desviamos com tantas coisas:
Quinquilharias vazias, estéticas e modais.
Me deixa louca de curiosidade,
afinal, todo esse lixo ta escondendo o que?
Deve ser algo raro para dissimularem
com tanto tempo e zelo
numa camada grotesca
(mas resistente)
de superficialidades funcionais.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ninguém.

Ninguém aparecerá na esgueira dessa porta, abrindo uma outra aurora para esses olhos cansados de tantas estações, ninguém virá sorrir teus beijos quando disposto ao silêncio entregar ao tumulto alienante do seu próprio eu, ninguém vai fazer folia com sua imersa alegria nem enterrará em cerimônia a pandemia de suas vísceras sagradas, nenhum broto vai nascer no tronco amargo da sua medula espinhal caso se aposse da pose agreste de feto mau concebido.

Não existe espaço para que o vento cante quando a ausência de amor...(ou algo que se assemelhe a isso) faz morada, não existe chance para quem não sabe se virar do avesso, quem espera sem acenar, quem pedi sem dizer nem olhar... não existe outra voz para quem não enfeita seu próprio canto, não existe verdade que caiba em quem só vê o ponto que lhe dói, não existe paixão que sobreviva a pressa, não a prece que salve o   si de ser a si mesmo.

Não existe leveza para quem ignora o peso, nem para quem supõe-se mártir a carrega-lo. 

Existe uma sabedoria minima em se viver bem apesar de...apesar de...
Ninguém te ensina isso, nem livros nem conselhos... vamos batendo e errando, batendo e acertando...parando de bater aprendendo a desviar sem deixarmos de nos despir...livres.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que eu vi. Marcha das Vadias.

"Tire seu rosário do meu ovário."
(Cartaz da marcha 2013)

O corpo choca e instiga. 
Nus seios todos lindos para fora da roupa, grandes, pequenos, multicoloridos, sem rostos expostos, despudorados e gritantes. O seio é o primeiro mensageiro, depois do torpe o grito: Respeito. Continua chocando, depois mais gritos centenas deles, vozes masculinas, infantis, idosas, indefinidas... a mensagem é clara, mas os olhos não saem dos seios,nem os flashs.
Escrevi alguns textos sobre ser mulher durante minha vida, e em cada tempo que vivo mais sinto o peso que o gênero traz em nós, não só o que somos individualmente, mas um plural feminino. Muito me incomoda o sexismo, mas isso nada tem a ver com isso, tem a ver com a herança viva de ser mulher e de ter o desprivilegio "cultural" latente e escancarado ou enrustido e desmedido.
Quando digo cultural, tem de se colocar em aspas para não soar como justificativa, que de forma alguma haveria. A cultura da predominância e da força sempre tendera a abafar as vozes que ainda não bem se definiram. Falar que existe igualdade entre homem e mulher é ignorar as estatísticas e os números, tão mais valorizados que as vozes soluçantes.
Eu cresci ouvindo discursos absurdos sobre o dever feminino de submissão, ou aquela valorização do "joguete feminino de manipulação" como se a mulher precisasse fazer escambos de sorriso por sua liberdade, como se fosse natural termos sempre caracteristicas ditas femininas, comportamentos como tal e tudo aquilo que ultrapassa a barreira imposta, fosse uma ofensa um ataque.
E ouvi discursos de homens e mulheres da mesma forma, ouvi mulheres que foram violentadas, espancadas, seu psicológico e coração triturados defendendo discursos de submissão. Ouvi mulheres que são coagidas verbalmente, que sofrem receios claros de ter seu espaço corporal invadido, ofendendo mulheres que não se comportam da mesma forma... ouvi homens falando tantas asneiras que meu lado violento quase vem a tona.
Confesso que essa luta de generos para mim já se tornou cansativo, parece que o ser humano se recusa a evoluir, parece que quanto mais urbano, civilizado e orgulhosos de sermos sociais, mas o lado animalesco grita e ataca o corpo ao lado, a violência sexual que é sempre os números mais chocantes, me feri em especial, além do óbvio :é um tipo de violencia que detona sua autonomia e te transforma em objeto(que ser humano suporta isso sem amputar uma parte essencial de si?) mas por ser a violência mais escancarada, mas sem vergonha de existir... mais enraizada, dita aos ventos sem ser segredo, no mêtro, no onibus, na rua, em casa, no parque em todo espaço, se não tomarmos cuidado nos acostumamos a ser alvos, se não prestarmos atenção quase sentimos que somos caças, que somos presas... o que não é nem nunca será verdade. 
(...)
E nesse coletivo é bom gritar, é bom bradar bem alto...sem pudor. é bom lembrarmos o que somos! nessa festa, nessa luta é bom ver o que feri ferindo sem se esconder, o que machuca sangrando sem se envergonha, todos os tambores e os risos por ser divertido o corpo, por ser gostoso viver livre... por alguns momentos amei todas elas, amei todos eles que estavam... e toda a alegria em um momento fez silêncio quando gritaram e lembraram os numeros de casos de violência, desnudaram a verdade da mulher exposta...vitima,isso feri, me feriu,as estatísticas... e de repente todos aqueles risos, se transformaram em lágrimas pelas lembranças suas ou de outras...então eu vi, um mar furioso e lindo em cada olhar.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Uma conversa...


 "Camila, a culpa é do opressor e do oprimido" assim finaliza a conversa intimista com meu irmão, acabou porque cheguei a conclusões enfim e entendi o que ele dizia. Concordei sobre o que falávamos.
  Tudo vicia, inclusive o que nos faz mal, alias se é vicio não é algo bom ainda que possa nos dar prazer, vicio tem a ver com o oposto da liberdade e a falta de liberdade aguça o medo, de perder o que? se a nossa vida e nossa autonomia é o que mais temos de importante e ela já foi trocado por algo, certamente pouco verdadeiro comparado ao que realmente somos, essa necessidade descontrolada sempre nos diminui e isso é um desperdício de Vida.
    Não adianta culpar o outro pelas dores que causou, não adianta culpar a mim por tê-las sentido... isso multiplica as dores, aceitar e entender, tentar limpar caso não possivel acalmar, e guardar em lugar arejado, próximo aos carinhos imensos que tivemos durante a Vida... próximo a ideológia ou a fé que nos mantem de pé, próximos as gargalhadas gostosas que brotam quando nos distraímos do nosso próprio umbigo.

 Resumo da prosa: levar a Alma para arejar salva Vidas.
    

Eugenia

Eu quero um pé de pitanga para mim
Eu quero pitanga no pé
Eu quero as estações da Pitanga em mim.

Eu quero uma casa com beijos de pitanga vermelhas no jardim,


Obs: Mas pode ser de amora ou jabuticaba também.

Elena, os Outros e Nós.

"E as dores vão se transformando em águas e vão indo embora."
(Trecho do filme Elena)

Pela primeira vez vejo pessoas ficarem sentadas em suas cadeiras após um tempo do término do filme, ninguém se movia e as letras dos créditos já estavam acabando ao som do que parecia ser a banda Daughter... as águas, tantas vezes suscitadas no documentário parecem ter transbordado em algum trecho da tela e as pessoas entraram em si, boiaram.

Não existe nada de "grande" no filme, existe uma irmã e suas memórias afetivas, uma mãe e sua dor escancarada, uma Honestidade tocante e uma poesia em mostrar o interior de algumas pessoas com uma voz mansa e uma delicadeza feminina de vestidos floridos que flutuam... e se permitem entrar no limiar da beleza e do abismo, para encontrar a arte e fazer dela um sentido para vida, alias esse é o tema e esta ai sua grande verdade: nem sempre encontramos.

E dou crédito a essa lacuna de possibilidade o estarrecimento das pessoas imóveis, a morte, a vida, a depressão, a alegria, a paixão, a felicidade, a solidão, o amor... tudo exposto, sem vergonha da infelicidade, sem vergonha da afeição terna rotineira e salvadora, sem recuar na dor da morte, encarando e gritando o discurso oposto do que é o Slogan atual: Sermos sempre felizes, ou ao menos demonstrarmos isso.

E a grande questão é: E se não formos? se não formos o que se fará com o resto de nós?

Somos um mosaico de tantos opostos que se encaixam e que as vezes precisam ser quebrados para construírem um inteiro, essa ambiguidade da mesma linha que é a vida, tão maravilhosa em sua essência e tão esmagadora as vezes em nossa diminuta aparência. O que fazermos com o resto de nós? a parte obscura a parte feia? com a parte em que a beleza chora e se transfigura? 

- Dar luz.

Nossas sombras se alimentam do que a gente esconde, esconde tão bem que nem lembramos o que era tão ruim que precisava ser esquecido a tão duras penas, mas a verdade é que não temos repartições, em partes somos líquidos em nós mesmos, as marés dos acontecimentos trazem a tona naufrágios expurgados do convívio por serem grandes demais, por serem pequenos demais para os outros, eles vem e já não aparentam serem objetos que possam ser iluminados, mas se caracterizam como espectros do limbo, e ai tudo fica mais difícil de ser limpo, de ser saudável.

A sociedade exige de uma forma quase simpática que sejamos homogêneos e é com a mesma simpatia que se cria os marginalizados da recusa: recusa libertária de dizer: Não, e a recusa marginal de não ter voz o suficientemente alta para dizer: Sim. Enquanto pudermos fingir até mesmo acreditar que fazemos parte dos que vencem tudo Ok, e quando formos atacados pela bestial dúvida existencial, não é difícil que cambaleamos sem saber para onde ir e carregando a culpa de se sentir triste.

Sai do cinema com a frase do Jung na cabeça "Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos." é isso, não aquilo que pensam de nós, nem aquilo que fingimos ser, mas o que somos... as vezes é necessário domesticarmos nossos monstros para encontrarmos o tesouro no nosso próprio jardim, e é preciso encarar a desprezável morte para entendermos a beleza singela de viver, é necessário aceitarmos nossos opostos para que possa haver equilíbrio.






terça-feira, 14 de maio de 2013

Entregar-se II.

E o Amor também tem a ver com limpar a bunda do outro quando esse esta de braço quebrado ou qualquer outro motivo que impossibilite a tarefa, aguentar a mesmas historias sempre, tem a ver com acordar de madrugada para fazer chá para gripe e tem muito a ver com ceder as vezes o conforto da sua felicidade individual para entrar no caos do outro e ambos saírem de lá fortificados... entrelaçados.

http://www.laurenfleishman.com/personal/loveeverafter/loveeverafter2.php

Juro que essa é a ultima postagem da semana sobre o Amor rs... to ficando obcecada pelo tema...

Partirei para politica.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Entregar-se.

É preciso uma capacidade minima de devoção para Amar e vivenciar isso inteiramente, não necessariamente ao outro, mas a si próprio, não de uma forma egoísta ou possessiva, o Amor tende a nos alargar, nos ampliar a mente e a alma, tem por objetivo trazer a tona uma parte do destino, um caráter de Deus.
Devoção tem a ver com escutar seu coração, tem a ver com calar a multidão, estreitar o Mundo a um grão de areia e nesse ponto perceber o Infinito. Amar tem a ver com expurgar demônios e anjos, desnudar-se e verificar os espaços feios e belos de cada um, o problema disso e sua majestade também, é que ele não se dá por simples querer, nem por escolha total, o Amor que falo é a sorte única do encontro.

E quando ele chegar, caso chegar... a piada maldosa, é que podemos simplesmente joga-lo fora ou diminui-lo a tantos outros.

sábado, 4 de maio de 2013

Madrugada.

Para dentro,
cada vez mais dentro
até que eu vire do avesso
E as estrelas em cima
caiam, e eu aprenda a andar
na via lactea de mim.
Com Alegria.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Tumbalalaika.

"...Rapaz tolo, para que perguntar?
Uma pedra pode crescer, crescer sem chuva.
O amor pode queimar sem nunca parar,
Um coração pode ter saudade e chorar sem lágrimas."

Afago.

"Estrela, estrela

Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer
Brilhar, brilhar
quase sem querer
Deixar, deixar,
Ser o que se é"
(Vitor Ramil)

Um suave beijo para o espaço livre em mim 
e de toda essa nudez que hoje me encontra
me entrego humana ao espaço...
Eu finita e feliz por isso.
Eu eterna e feliz por isso.
Aceito o afago meu Deus...


  (Foto: Alberto Kirilauskas)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Big Bang.

Eu poderia não suportar as amarras, arrasar o muro com o dilacerante sim do meu coração, grito inundante de tudo que não sou , eu poderia debruçar os meus ardis no fogo dos meus olhos e vê-los gozar em chamas até desistirem de ser e serem em mim só sombra esquivada dos meus desejos.Eu poderia apaziguar meus demônios do excesso dando-lhe apenas algumas lágrimas vencidas, embebedando assim seu Ego e constranger sua violência a apenas um suspiro de penumbra.

Mas não o faço, queimo junto, abro meu coração para a tempestade e ela vive em mim, como se o céu de chumbo que hoje reina fosse seu lar e nos meus olhos o desejo de esbanjar o Amor vai descamando todos meus pensamentos, vai condensando cada respiração para um núcleo que tem o meu nome, mas ecoa o dele.

Esse núcleo se derrama por minhas horas, numa tensão torpe de quem respira e chama e na ânsia de fazer ambos cambaleia, e vislumbra a realidade da inerente mãos dadas e a respiração unida, como se a vida do outro não se limitasse ao seu corpo, transferisse, morresse vento nos pulmões daquele que cede a si de forma desnuda.

O ponto que falo é completo e carrega em si todo seu oposto, o rancor e a doçura, de ter seu peito rasgado e reconstruído.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O Livro Vermelho.


Brincando com o Jung.

O tesão também vem do espaço,
Deus vem prosear nos sonhos,
Sincronicidade é a caderneta do acaso,
Inconsciente Coletivo é o rebanho dos átomos,
As paixões são o recreio da loucura,
O só falo do Freud de fato é falho,
As mães nem sempre tem culpa,
A anima boa aninha a testosterona,
a má virá mijão de condomínio,
O animus bom empurra os seios para a aventura
o ruim amputa as flores e faz barraco no murro,
A de se ter um que de ciência nos astros,
E individuação não é fazer piruetas no seu próprio umbigo.






Beijo na Testa.

é um carinho doce que só fica atras de respirar junto.

Razão.

Me deste a delicadeza do teu pensamento numérico
e me cobraste em troca a resposta lógica do meu coração
Me deste sua argumentação de certezas
e me pediste que encarcerasse minhas duvidas no porão.
Me deste um apoio concreto
e quiseste apagar as nuvens dos meus pés.
Me deste uma solução
e me impuseste minha dissolução em ti...
Me encontraste é certo, rasteira
puro vermelho no chão
sem atentar as linhas
e a margem da coerência
me deste o acolhimento frio
de quem não contesta,
mas tem no tom o passado
de teorias, que contrasta
ao grito tórrido da minha voz gutural.

Poesia do Hoje.

Hoje eu vou queimar as palavras em mim
E nada sobrará para amanhã
Nem o silêncio.
Minguar e crescer,
tomar o pó lirico
com água
e apoiar na boca
Toda a verdade
do meu sangue.

Um Gosto.

Assumo o gosto arredio do momento
Ocre, acre, oco...
Asco e soco
Aceito e engulo
Atenta ao sumo
do meu sangue
que dilui,
em fino forte e vermelho
Ao suco salgado
e marrom que desce
quente e me esquece
o frio da espinha
percorrido pelos peixes
dos meus obscuros
poros.
Encaro a ancora
de cada paladar
das minhas ações
e ansio a ansia
de não prever
um querer a mais...
Pressiono meus dedos
no corpo que quer,
reverter todo amargo
que me ingeri a Vida.

Rachmaninoff.

Teu passional assusta
Pressiona meu susto a se dissolver
Perambula pelos meus nervos
os trovões ligeiros,
Dando alivio a tensão da luz.

Liberdade.

O arco entre o espaço e teu corpo
a tua palavra e o silêncio do outro...
A Liberdade não é invasão nem inocência...
é a malacia propositada,
Mais que a ação
e o direito
É opção de assumir o arbítrio
e a consequência.

Eu.


Recuso a loucura a um passo de mim
Cedo sua dança a minha sombra
E corro para o espaço que
Encerra-se o Sol
Sal de mim empurra-me para ti
Contraste do desejo e paz,
E da minha fúria pelo próprio rodopio
Falho, do meu coração.
Recuso a loucura a dois passos de mim
Como quem atravessa para si
As mãos em direção aos cabelos
E se acaricia na noite,
E no ventre apoia sua força
Cheia de saliva e solidão.
Reabro-me então,
Constelação rarefeita de soluços
E estrelas que caminham a cadência
E a boca que soletra um pedido...
Pureza;
Reclama o corpo e clama
Por uma direção aos poros
Mais claros aos lábios mais
Entrelaçados em silêncio...
O corpo que pedi por certo gemi
E desapega das certezas
E dos limites do que é carnal
Chama de Adeus seu riso
E engoli as partes acidas do seu coração.
Quer renascer.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Nenúfar.

Me encontraste assim nua, no tempo da palavra crua, onde as nuvens pousavam ainda seu existir de água clara, bruma branca, filha de paloma, nesse espaço onde tudo me parecia Ser um plenamente Tua. Me acertaste com concreto em flecha, sua palavra de tom suave e apontamento ao que me feri os olhos baixos, menina tímida e arisca acostumada a estar lânguida pelos regaços de si mesma, deixando a espessura exata do teu sorriso para atravessar as pontes dos corpos.

Tempo;
Temo que passaste depressa nesses anos dos meus olhares, que agora são tão calados.

Me reencontraste um pouco mais mulher, no tempo polido de estar, um tanto mais paupavel, nuvens desaguada desencontrada ainda entre os ares e a terra, desconfortável com meus seios e o peso dos passos por outros almejado. Me reencontraste trazendo no seu tom, meu canto de Alegria e liberdade e o gozo de flor madura tem por destino virar fruta, doce e não travada entre as línguas que ferem, por citar aos ouvidos a existência de outras e a resposta rouca da desistência. Ela deveria alimentar.

Alma;
Almejaste o oposto para ambos, era o tempo do eterno que embalava os meus cantos.

Me reencontraras amanhã, creio que em tempo rígido de certezas, me reencontraras e desviara os olhos para si, descontente do passado e do presente que me cabe. Anseio-me entregue aos sons do espaço, e madura agora fruta caída em sementes entregue também as nossas águas que fluirão. Um.



http://www.youtube.com/watch?v=-_Y2jfK06pY


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Suposto.


Sabe o que é um corpo
Sólido, liquefazendo em vexames
E enxames de lanças de si para si?
Aposto um acorde dourado
Por seu sorriso
Que não suporta
O peso da agulha
Apontada na direção oposta
Da busola...
Do meu coração enroscado
Em todos os opostos
Enraizados da minha mente
Aguda, águada...

terça-feira, 26 de março de 2013

Pessoal IV. (Casulo)

Eu aprendi algo.
Que bom agora e não depois, não gastarei meu tempo pensando que poderia ser antes...
Eu estava trancada em mim mesma e nem sabia... pensava que estava me expondo,mas era sempre o olhar de quem esta de dentro para fora... não quero menosprezar a importância da introversão, mas existem mudanças que nos libertam, mas para que isso seja algo realmente perene é preciso estar lá fora, nenhum aparato de conforto, nenhum lugar de refugio, nenhuma hipótese salvatória... não ter nada em que se apoiar no futuro hipotético... sentir e pensar constroem a roda da nossa vida, mas é só quando fazemos algo assustador e usamos na nossa carne exposta o verbo da ação é que nos libertamos de fato...e vivemos.

Só estamos nú no Mundo
Que assustadora beleza
é viver.


segunda-feira, 25 de março de 2013

...

"Listen to me, why is everything so hazy?
Isn't that she, or am I just going crazy, dear?
Lilac wine, I feel unready for my love"
(Lilac Wine- Jeff Buckley)


Nós esperamos qualquer pessoa entrar pela porta
e nos trazer lá de fora o vento inspirado pelos lábios
unidos, pelo nariz colado, deixar a vida correr pelo nosso interior
silencioso, e acreditarmos por um tempo ter em nosso espaço
o sentido da vida e o gosto transbordante de amar..
E enquanto eu quiser brincar com as palavras,
talvez elas também brinquem comigo
e jamais entreguem sua nudez clara
de dizer, aquilo que sinto nesse momento
cálido e intimo de estar sozinho
carregada de lembranças
e saudades, e da tristeza
profunda e quieta de quem
já não reconhece o mundo
de quem pensou ser alma irmã.
Enquanto eu me aceito nua e friorenta
E ato meu coração as minhas palmas
e acolho, como ninguem ainda o pode fazer
e o observo... tentando pensar
e teorizar...que foi um sonho,
Que agora se estranha em mim.
Mas ainda sim...
Mesmo sendo noite, mesmo tudo acabado
até mesmo a fé...
Nós esperamos...alguem entrar pela porta e nos
trazer um pouco de ar nos lábios.

Mudar.

Muda no plural
Mudas apontamento
transitório dirigido
A mim e ao tu,
Mudas planta encolhida
esperando ser fruto,
finda vida de semente
largada ao vento,
dispersa e liquida
desatenta ao que sobra do mundo
afunda pés na terra
E nas suas raízes, muda.
Seca, água-se
debulha, dilui
Morre e cria.
(...)

A mudança é natural
e a Liberdade de recusa-la é uma subversão
de fato...rebeldia leve
pois o descontrole vem do tempo
de dentro...e de fora...
E mesmo que se impeça
(e a de se ter muita certeza para tamanho esforço)
As mãos tão delicadas uma hora pesa
pedi pó e voa.

A Vida tem fome de Vida.

                                                       (Foto: Alberto Kirilauskas)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Esse.

O tempo descobri espaço
Fuça mão sadia nos 
orifícios, desmenti oráculos
Supõe ao outro 
E dispõe a si desmentir
Desnudar, e entregar
ao nada e ao tudo
esse corpo humano
inteiro e partido
em um só minuto...
da Vida, o todo
inteiro e partido...

                                                             (Foto: Alberto Kirilauskas)
                                                       
 

terça-feira, 19 de março de 2013

Estrela. (Um samba sem som)

Vamos lá, deixa a Alegria sorrir
arranca com gosto a lembrança sonhada
e o rosto guardado da Paz
é uma questão de força
e quando se vê ela impera
vitoriosa estrela dourada
que reclama seu espaço
na escuridão.
É uma suposição de espaço
o tempo agora ancorado
nas desilusões
Mas dissolva-se águada
pelos rios de si
Amar é uma Subversão.
E rir é evoluir.

                                                        (Foto: Alberto Kirilauskas)