quinta-feira, 24 de março de 2016

Sobre nossa incapacidade de ser neutros.

Meu corpo ocupa esse espaço
Limite concreto de ossos
ar, sonhos, razão e alem

Deitado supondo-me inerte
Massa aportada no concreto,
Ainda, sim: sou
Respiro,
E nada em mim foge
da realidade de estar viva.
Assim como,
ao gritar em aberto pulmão
ao dançar em célere passos

Vivo, efêmera, mas criadora
Ninguém responde por mim
da carga ambígua e bela
de viver
ninguem me tira o recinto,
do corpo que vivo.

Meu encargo pensante
não é neutro,
Impossivel ser,
Existem bandeiras.
Existem Partidos,
Existem idéias
E existem posições.
E existe esse meu corpo
que pensa, senti e defende
seu lado.
(ainda que ele possa reverter)

Reverter também é existir,
- Me nego ser poupada.


terça-feira, 15 de março de 2016

...

E se eu tomar com delicadeza a palavra sem assusta-la, pediria para repousar nesse espaço trincado em que acorda minha aflição, completaria de sentido onde não existe algum, e traria a luz carinhosa de um aconchego longínquo... de um tempo abstrato em que não havia o peso e a partida.

sexta-feira, 11 de março de 2016

quinta-feira, 10 de março de 2016

De quem sou.

Confesso que quando me param nas ruas de SP e perguntam: "Você gosta de poesia?" Respondo : Não!. Saio rindo internamente, satisfeita de assustar meu eu romântico, ele precisa disso as vezes.

Pedro Persona

As 7h da manhã no metro paulistano, a alma amarrotada disfarçada de pressa, os esbarrões atravessados e ignorados pela desconfiança virótica no ar, dentre eles, ele lê, olhos miúdos repousam concentrados no livro de histórias galácticas.

No outro braço uma pasta verde direciona meu olhar, algo ilegível sobre sociedade. Me instiga. Entre o espaço e o urbano, alguém se abstrair em si. Ele não me vê, empurra os cabelos distraidamente do olhar, é bonito, feição desajustada do meio.

Um barulho chama a atenção, ele me olha por cima dos óculos, um olhar entre a senilidade e a brejeirice, fixa, mantem por alguns segundos, olho para baixo, a timidez sempre ancorada no meu peito.

Esses segundos, o recriam em mim. Penso nele a partir de então, dou-lhe nome: Pedro, combina com a rigidez da cidade, ainda que apele sempre para beleza nostálgica, do seu oposto da madeira, do campo, nome simples, mas ele me parece composto, completo: Felipe. O corpo é de mocidade, sem a rigidez máscula, mas de penugem leve. E aquele ar aristocrata combate com seu tennis rasgado, tipico de adolescente, com cadarços verdes, concluo: Há de ter humor.

Estranho como as vezes abrimos tanto olhar para o que desconhecemos e esquecemos do detalhe presente... dos gestos belos de quem nos cerca rotineiramente..

Mas, Pedro agora esta perto, vive em mim, em algum tempo.. pensar no tempo, escurece meus sonhos, sempre ele, a entregar de bandeja as virtudes para serem gastas, os encantamentos para serem padrões, ele que deveria ser aliado dos amantes, passa a ser delatante estoico da imperfeição humana, ele que deveria despir de insinuações e doloridas passagens...cria rígida distancia aos distraidos, que pensam que algo sobrevive sem os cuidados mansos e guerreiros

Vive em mim, e por viver se transforma. O rapaz do metro, agora almoça comigo, come e estala os dedos de prazer, se mostra mais vivaz que seu silencio intelectual. Saboreia iguarias, gosta dos sabores compostos e da estética do café. Quer alcachofras, pinhões, quer o trabalho de se alimentar, quer algum ritual em comer, algum charme em experimentar, quer montar gostos, não se apetece pelo simples e pela comida diária, como seu nome: Quer compostos, quer compor: Uma vida que diverge. Diz amar os opostos: Ser humano é complexo, que bom.Afirma.

Afirma pouco, alias. Prefere ser medido nas palavras, nas escolhas, compõe o sabor, mas enche de precaução os ingredientes, gosta do seguro. Enquanto não sabe, se tranca, entra em contato com suas dez camadas, e quando chega no ser pulsante, carrega o subterraneo de Hades, confesso que peço as raízes, mas as camadas trancadas não permitem escolhas, sabem só que querem sair, entende a erupção.

Agora eu e ele, já somos um certo nós, meio avesso de tantos opostos. Meio praia, meio ar. Meio estrada, meio nuvens. Meio discurso,e alguma ação.

Na mesa de marmore imaginária, discutimos. Eu me inclino e ataco, ele ataca e inclina. Nota desafinada em um coro de dois. Ele dança bolero, eu me arrasto no blues. Ambos se machucam.

Tento contar no mundo aqui de dentro, tento ver o dele, mas é dificil, somos sempre a medida da realidade.

Tento contar que aqui dentro me desmancho de carinho e que não sei o que ocorre, e como ele se mantem planta aquática enraizada sabe Deus onde, mas não desmancha, não se move para fora, esta ali. Estou lá fazendo uma cabana quente para viver tambem, sei que ele me guarda como eu o guardo, e que ainda esbarramos os olhares curiosos e instigados, e agora a pergunta se derrama de generosas águas, fundas de tantas dores e tardes sadias... um ainda olha para o outro, e meu encantamento permanece.


Desengano.

Nunca escrevi uma poesia completa
escrevi camadas
as repeti
e repeti
pensando que me despiria
Me veria ali
exposta e alheia
Veias pungentes
Acordada com as palavras
Sempre ancorada em mim
Esse todo em que me encontro sendo,
Descer de si
era o lema
sair do centro
marginalizar cada raciocinio
Escandalizar a luz
Encantar a lama
Por fim
Enudar-se
Inundar-se
Achar o umbigo central
e virar como um filtro de café usado
refeito
novo
Limpo
Achado.



Do Adeus.

Ele possui a chave
eu possuo o corpo
Eu sou copo,
mas  recusamos a ser liquidos
queríamos ser sólidos
queriamos ser sóbrios
e de tudo só sobrou o que se espera
Pó e palavras,



Caminhos.

Eu plantei sementes
e não colhi frutos
tomei os sonhos
que orvalhavam
em suas folhas.


Sobre.

E dessas paixões o gemido estridente
vazando alheias ao nada
Derramam-se em agudos
estilhaços quentes
Pontuando cavernas alheias
de estalagmites vermelhas.



sexta-feira, 4 de março de 2016

Cibely.

A Ci esta sempre com saudades de si
de um eu perdido por ai
entre a esperança e a descoberta
algo apagado nasceu
bem no meio da sua garganta,
ela tosse, mas não sai
só empaca as palavras,
Mas mais do que ninguem
embora não saiba
Ela mimifica
dança
pinta, escreve
vira o diabo do avesso, mas sempre acha
a beleza em algum canto
e desse canto faz samba, faz folia
depois descansa por um mês
no subterraneo
Exausta, caçando as cores perdidas do arco-iris
Mas, não se engane
nada se apaga
Nela,tudo candeia.