quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Das coisas.

Eu encontrei uma pedra no meu caminho
e ao piscar era um monte
mais ingreme que as paredes de lá
Se nas mãos houvesse apenas flores para carregar
Subiria e teria a vista de quem vê do alto o espaço
Dos passaros e de longe
imaginaria com desdem as ancoras
Mas, alem de flores haviam flechas
e uma longa mala nas mãos
Os pés já cansados,
e nenhum lugar para repousar...
A boca enchia de água
até mais que os olhos
ao pensar que poderia descansar
sonhar com redes
e plantios
Mas, sonhar inflava sem alimentar
Era apenas um pequeno trecho
onde tudo era quente e sadio
e depois deserto e cactos.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

...

É possível se perder em um abismo? Na minha mente simples perder-se não tem a ver com o espaço vertical, penso em lados a seguir, mas perder-se na queda parece pouco provável, talvez estar nele já é estar perdido, perder-se nele é uma proeza de poucos.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Jangadeiro I

"Todo abismo é navegável a barquinhos de papel."
(Guimarães Rosa)


A noite ondas  gigantes batizaram meus sonhos de desespero, poderia beber as águas escuras das minhas magoas, mas elas não saciam, nem os salgados apelos líquidos que fazia para o amanhã, para o dia, eram apenas margens de água e a minha boca seca gastava sua ultima saliva para embebedar a bussola para uma direção... um prumo, poderia ter escolhido uma saliva de prece, um beijo de despedida...enfim.

A verdade é que o horizonte era mais uma linha obtusa do que um plano a seguir, mas ainda sim me embrenhava nessas águas, sou aquática por natureza, achava que isso me salvaria... mas, nenhum conhecimento é suficiente perante alguns caprichos da Vida... e esses tempos, bem se sabe, são de líquidos diferentes... não se misturam aos meus, nem sangue, nem gozo e nem lágrimas. Pesam menos. Existe pouco espaço para os animais densos dessa espécie, mas isso talvez seja apenas mais uma das tantas pretensões tortas que vamos somando no caminho.

Mas, bem sei que o que era certo, é que queria o caminho, e visto de longe dizem, a ilha é melhor vista, mas confesso que não se deve afastar tanto, correnteza é forte, as correntes também, melhor estar perto de si, perto da sua imagem primeira.

Alias, espelhos haviam centenas cada qual com suas fases, mascaras e retratos todos eles verdadeiros, tão compactos ao meu pulso que mau saberia dizer quem é a de hoje, uma soma de quem nunca foi muito amiga dos números, essa era eu.
...
A noite é um tempo que me acalma, ainda que eu seja do dia, mas sou do dia depois de um tempo, no inicio era breu, depois houve as palavras, o consolo e o mar, ai me recolhi com algumas estrelas que me consolaram das barreiras erguidas, eu elas e os espelhos, muitas coisas mais, inclusive amor.

Quando fecho os olhos vejo uma agulha costurando um tecido, há dias penso nisso, Tão arbitrário, se considerar minha destreza com os tecidos, mas essa é a imagem que me segue... a mão que costura os trapos, ou os novos

(...)




terça-feira, 25 de outubro de 2016

Entendi.

Porque aceitar quem não tira os sapatos para entrar na sua casa? e vem no bruto a pisada suja do mundo querer fazer ninhada no seu coração? Sem silêncio, sem delicadeza. Atacando beijos, e corpo como se não houvesse alma nas palavras e não houvesse olhos nos olhos, e não houvesse algo a mais do que a razão.
Deve existir um fogo que persiste alem do outro, para que o inverno não afogue em ilusões a solidão e não façamos escambo de flores por números, e permitir que amassem nosso jardim como se fosse nada. É preciso caninos fortes e brutos para ter flores sadias.

sábado, 22 de outubro de 2016

Verso Hermético- 30.

Abri as portas
havia um sol desenhado nas paredes
E um calor que emanava leve no meu coração
Perante o concreto
Diante da fortaleza arredia
Eu lutava por pulsar
E ensaiava uma dança
Silenciosa
E subversiva
Meu passo batia no chão
como tambor
e recusava
a dureza
nos meus olhos
E agora eu sou uma mulher
com seios, formas, e historias
Tão somadas
Tão dissolvidas
E isso faz uma voz mais forte
COndensada,
Todo sorriso hoje
Abre mais minha pele do que antes
Todo amor me desperta mais gratidão
Toda magoa tambem engrossa mais um discurso
Eu me sinto circular
Um que de sagrado
e velho
brilha no meu coração,
Ainda tudo
Ainda eu.


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Fotos suas.

"Remembering you standing quiet in the rain
As I ran to your heart to be near
And we kissed as the sky fell in
Holding you close
How I always held close in your fear
Remembering you running soft through the night
You were bigger and brighter and wider than snow
And screamed at the make-believe
Screamed at the sky
And you finally found all your courage
To let it all go"
(Pictures of you - The Cure)

No copo vazioNa parede descascadaNas mãos desconcertadasNo silêncio amortecido pela tvNo descaso das palavraslargadas como quem dispensa de sia pele velhaNa frieza do presenteNa blasfêmia do sagradoNo vinho bebido no altarao meio dia de um dia comumsem poesia e sem sedeNo discurso concretoda objetividade caduca de ser alguém que tem algoEm todo espaço que você estava, Amorse encheu de bugigangase as fotos ja gastasde um sorriso que deiMal decoram a organização seca e pálidados meus diassem devoção.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Familia.

Eu sou a semente, da semente do sangue
a parte do que sobra da história
o sonho de um dia as mãos dados tiveram
a semente do trigo passado
remendado em tantos contos
aqui e por ali
avós, avôs o findo costurado
no meu dna
no meu circulo
no espaço em que haveria terra
existe a historia
do vicio, do acaso
marcando as costas, os sonhos
marejando mãe, pai, irmãos
maestrando a pauta
em que construo minha canção.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ninguem em casa.

"Eu tenho um pequeno livro preto com meus poemas
Tenho uma bolsa com uma escova de dente e um pente dentro..."

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Se eu morresse amanhã, ou quem sabe daqui uns minutos, falaria mais eu te amo do que perdão.
A ultima saliva dita com a essência humana purificada, amor que vai fluindo, desaguando, vai rompendo o tempo e dando importancia ao existir. Hoje o dia perfeito me pesa a mão de uma criança nos ombros, é essa melancolia aguada que vai me dissolvendo na atemporalidade, vai me enchendo de uma gratidão solta, de uma compreensão de asas e reticências.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Guerra.

A humanidade anda para frente?
Bípede caminha em linha turva
e pisa pesado
O passado de grandes sombras
marcam a história
Freiam a consciencia
negando o retrocesso
Mas, veem-se crianças socadas
Fome velada
Tortura, escravos
A mesma marca de sangue pisado
pintado como cravado
nos cromossomos que nos guiam.


domingo, 26 de junho de 2016

Natureza.


         No fundo do meu coração eu tenho uma sensação de que morar em São Paulo não é real, o que parece uma incoerência sendo ela uma metrópole que engole uma grande parte da população,essa maquina gigante que fundamenta tantas vidas, mas ainda sim nada me convence que isso é real...

        Pego o metro, ando naquele esteira, sem conseguir dar um passo a frente, aquele mar de cabeças isoladas, cheiro perturbado, tato indiferente, audição formada por um só zunido, a unica coisa que escapa é a mente que trafega em outro horizonte, o que também não é real... fugir do presente e achar que viver dentro de si é dar um bom rumo ao tempo. Tudo instiga a desejar mais, a te prender mais ali, a cavar com seu proprio tempo a ilusão de estar ali.
        Saio do metro e olho para o céu cheia de fome de olhar as nuvens descontroladas, amansando o tempo e cedendo ao vento suas formas, o sol presente,estrela gigante, aqui mau marca o tempo, chove, e minha pele recebe sedenta as águas indomadas que não fecham e se abrem quando quero, apenas caem, peço: me permita ser animal.
          Penso em caranguejos que se escondem na areia, adoro caranguejos, correndo de cá para lá e travando com suas patas uma coragem quixotesca com os humanos, penso nos peixes pequenos na beira d'água fluindo em pequenos grupos e depois imagino ao fundo do mar a riqueza de tantos e tantas cores e animais imensos, na superfície a água em movimento não é explicita, sinto ela como um manto vivo azul vestindo o mar profundo de nossos olhos, tudo se movimenta e em cada parte tem vida.
        Os animais que vi me encantam, todos eles. As tartarugas marinhas em especial, sonho com elas,sempre transcendem. As plantas e suas veias e formas, digitais poéticas e profundas das folhas, as raizes enredadas, veias perfumadas de terra. OS troncos brutos cheios de seivas, de fungos, orelhas de pau, cascas e cascas e amontoados de vidas, e aquela luta travada a cada minuto por cada parte que quer viver, nesse ciclo de presa e predador, de caos formado pelos galhos secos que caem sobre as formigas.
       Sinto na memória meus pés pisando as folhas úmidas, e o som dos pássaros diversos, do vento na copa das arvores, sinto aquela presença úmida da mata, meu esforço por superar cada passo, cada risco... eu sei o que amo.
                  Ao pé da escada duas pombas brigam pelo resto de pão, penso no caos, sinto-me pomba, voo perto, mas descanso ao meio fio de uma rua marginal, penso pomba, depois penso asas e voo mais longe, penso ave mais que pomba e saio dali, vai acalmando o meu peito e esqueço minha ingenuidade em debater meu jardim contra o asfalto, deixo-me ser um matagal nú a enfrentar o silêncio da calçada, meu rompante imaginativo subverte a realidade pouco plausível para meu gosto animal, eu era e ponto, o céu e as nuvens e a chuva que caia, era água , água derramada na pele, água que também era meu corpo, não duvidava mais,: desmascarava ao menos naquele minuto a farsa civilizatória.

   (Foto:Alberto Kirilauskas)

domingo, 5 de junho de 2016

"Sua poesia é como uma receita de drink"

"So, so you think you can tell
Heaven from hell?
Blue skies from pain?"

Como um mantra repetia: Não importa mais.

 E de fato não importava, talvez no silêncio ainda houvesse semelhança com algum passo antigo e um certo aperto no peito, aquele esforço para encobrir a pulsação que salta na blusa esquecidamente desabotoada, aquele liquido quente que escorria por sua cabeça, um dilúvio nos seus pensamentos, afogando a direção a ser tomada... travando seus passos, por ora pensava, e quase rezava: Não importa.

 E passava como um pretenso iluminado por suas vidas, por todas as mortes coaguladas nos seus olhos, no seu passo certeiro: Frente!, embaralhava as cartas passadas: - Todas sou eu! isso posso afirmar.

 Afirmativa essa que trazia uma consciência do limite do seu próprio corpo, do espaço ocupado pela respiração que soltava, morna, saber de si era mergulhar em si mesma, manto de lã rustica, de casa de palha, de sobrevivência e de limites. Enfim, salva.

 Existe um perfume raro nesse lugar, nada de leves rosas, ou doce almiscar, é o cheiro bruto de mata inconsciente, aquela sensação aquatica e terrosa, o gosto elementar bem distinguido. desfigurado de insinuações, é o cheiro natural de estar na sua pele. Mescla de couro e alma, resultando em alguma poesia, que só pode ser intro escutada.



quinta-feira, 28 de abril de 2016

Estopim.

Sinto a ponta dos meus pés geladas, a primeira peça que vi foi Valsa n.6 do Nelson Rodrigues, fiquei encantada, lembro da vergonha que a personagem Sonia sentia dos pés, não entendo... e hoje que esse pensamento me veio rápido na mente, entendo ainda menos, a alegria de sentir o frio no meu corpo desmancha qualquer mensagem as entrelinhas de algum inconsciente perturbado...meus pés gelados me fazem sentir bem, sentir o meu corpo...

A vida  é cheia dessas patifarias de extremos momentos, ao menos a minha é, ontem rasgada, hoje alegre por estar no frio... pensando de leve em todas as poéticas que combinam com as nuances do dia...e suas belas passagens.

Meu coração pesa de saudades, mas me envolve uma bruma de Vida tão macia e jovem que não posso evitar de colocar minha coragem nas costas e sair para a rua...para o que vier. Aceno, inclusive para a chuva.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Reconstruir.

Uma mesa
Uma pá
um discurso
certas imagens
O suor caido pelo sol
na ação de
Caçar sementes uterinas.

é.

"...Did I dream you dreamed about me?
Were you here when i was full sail
Now my foolish boat is leaning..."


As conchas vazias
casas que deixam de ser
Largadas na areia
mesclam-se  minusculas,
pequenos pontos finais
que vão pelas marés
repousar em um mar de ditos
mal cumpridos,
Tão precoces em findar...
Piso com meus pés finos
e me entrego
a mais um fim.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Quando eu ando...

Quand Je Marche

quando eu ando, eu ando
quando eu durmo, eu durmo
quando eu canto, eu canto
eu me abandono...
quando eu ando, eu ando direito
quando eu canto, eu canto nua
quando eu amo, eu amo apenas a ti
quando penso nisso,
eu não durmo mais.

estou aqui
estou dentro
estou de pé
não irei mais zombar de tudo

escute, tu (me disseste)
(o canto do mundo) a hora de chuva
quando a alvorada se levantar, estou lá
e quando a noite cai,
eu caio também

estou aqui
estou dentro
estou de pé
não irei mais zombar de tudo

quando eu tenho fome
tudo me alimenta
o uivo dos cachorros, depois a chuva
quando tu partes, eu fico aqui
eu me abandono
e eu te esqueço.







terça-feira, 12 de abril de 2016

Desabafo.

O intenso trabalho de tirar a sujeira do armário, da cama, do pensamento e das memórias.

Tirar as pedras do caminho, tirar a palavra mal mastigada, aquele peso de lágrimas que se enroscam por anos na garganta. Sei que não existe tempo suficiente para limpar tudo que me torce o peito, que me diminui a Alma... toda essa confusão, esses destroços e essa magoa mesclada de culpa.

Esse peso que me enverga a coluna de não perdoar o julgo que me deram e a ausência de cuidados que tanto precisava, essa força que me gabo e que as vezes me julga e prende. Essa robusta marca de quem enfrenta de frente, supondo que a onda é sempre menor e quando pequena intuindo as tempestades que surgirão.

Esse trabalho é de uma vida toda, mas sei bem que Ela pede urgência, me coloca sentada, parada, muda para mastigar e enfiar engolir o amargo que não alimenta, mas de certa forma cura, porque assenta as dores na nossa Alma eterna, dor essa que foi vista, não ignorada, pois já sei bem que esse seria o pior caminho.

Me impressiona demais a Psique humana, Potencialmente maravilhosa e corriqueiramente baixa, com armadilhas tão reais que é possivel sangrar por elas..esses míudos cacos passados que ainda me lacrimejam os olhos e me guiam para erros já intimos do meu coração.

Porque no fundo o clamor é romantico no seu triangulo de perfeição: Beleza, justiça e verdade, mas por ora debate-se todas as miudezas que cada oposto dessas palavras carrega... agora penso na capa do Pink Floyd e seu prima, trazendo da luz branca suas outras muitas facetas coloridas...eis o potencial, mas tanto se perde em alguma buraco negro que nada reflete, nada transforma, só se alimenta das nossos medos passados e das nossas confusões terrenas.

Sempre  achei que os relacionamentos amorosos tendem a ser uma valiosa porta de conhecimento, ele ativa uma parte tão viva e cheia de energia em nós que tudo se renova, gostos, texturas, esperanças, todo aquele movimento raro que traz a beleza a tona, que enche de sentido as horas... por seu oposto compreendo que vem deles o grande expurgador de complexos, ele desenterra monstrinhos esquecidos, toda magoa amorosa vai na minha medula primordial, move meus ossos, meu sangue... minhas marcas.

Amor é Renovação sem dúvida, nem que seja a base da hemorragia!

 As vezes eu acho que é uma questão de aguentar... li esses dias que Amor é "ficar quando cada célula do nosso corpo nos manda fugir." Faz sentido. Muito sentido, alias.

Confesso que tenho fugido demais, animal mais acuado esta dificil de encontrar.

Com o tempo percebo que a grande sacada...a grande vitória ou verdade digna de ser proferida nessa vida é: Ser fiel a sua melhor parte. Grudar nela, lutar por ela com toda sua força e amor e quando estiver arregaçado(porque a vida tem dessas coisas...) continuar firme, não mover os pés!- depois a gente fala das asas, no vento e da leveza, mas hoje falo de raízes- existe um mundo todo querendo ter mais pés para ele pisar e faze-lo correr mais para o abismo... não quero ser um deles, ao menos se já estou sendo, não quero mais...

Me interessa saber como limpar minha Alma. Me interessa não voltar a infancia primeira e me acuar na ingenuidade, isso seria perder-se, perder ao tempo... me interessa como ser integra sendo a mulher que sou, tendo as dores que tenho, as lutas que passo, os amores que carrego, os amores que perdi... me interessa a concentração de desatar meus nós.

Estou profundamente desinteressada em parecer interessante nesse momento. Em soar leve, em vender alguma alegria... me disporia a andar surrada, descabelada, ignorada, qualquer coisa, desde que aquela passaro...aquela alma, vibrasse inteira em minha pele.





sexta-feira, 8 de abril de 2016

Versão poética do Foda-se :

    "Pouco me importa.
    Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa."
    (Fernando Pessoa)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Tzigane Ravel.

O violino solo vibra languido
dança de pés descalços
no espaço arenoso,

Perfil de seio ao sol
De solo são
De solto salto

Derrama-se nas notas o peso quente
liquido
suposto da solidão.

O Piano que se apresenta
jovem, expõe-se ao pedido
é devorado, se move a decifrar
a sensualidade desértica
de quem o chama

Apresentam-se crús
mal mesclados,
Reconhecendo-se a táteis acordes
Brincam, com passadas de mãos sonoras
e línguas harmônicas
Lambem-se.

Ela o puxa, ele cede
Ele seduz, ela permite
Tornam-se espirais
Até o agudo gemido da nota

Debatem-se, cada qual com sua furia e som
sua vida,
seu discurso sobre a circular passagem,
Beiram-se na escura miragem
de uma escada caracol
No abismo das suas cordas
emblemam-se.
Deixam-se quedar.

Depois, vibram em saltar
correm
desvarios do tempo
com o susto
o outro sustenta os passos
de quem se apressa
querem molhar a trama
agora ambos
para o mesmo lado,
Miram o horizonte,
com um certo Amor,

Na ofegação dos corpos magnéticos
de madeira e sonhos
Eles juntos mergulham na satisfação final
de cumprir a grossas paixões o espetáculo.










sábado, 2 de abril de 2016

Saudades.

Do cheiro de amaciante das roupas
das veias das mãos
e do sorrir juntos.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Sobre nossa incapacidade de ser neutros.

Meu corpo ocupa esse espaço
Limite concreto de ossos
ar, sonhos, razão e alem

Deitado supondo-me inerte
Massa aportada no concreto,
Ainda, sim: sou
Respiro,
E nada em mim foge
da realidade de estar viva.
Assim como,
ao gritar em aberto pulmão
ao dançar em célere passos

Vivo, efêmera, mas criadora
Ninguém responde por mim
da carga ambígua e bela
de viver
ninguem me tira o recinto,
do corpo que vivo.

Meu encargo pensante
não é neutro,
Impossivel ser,
Existem bandeiras.
Existem Partidos,
Existem idéias
E existem posições.
E existe esse meu corpo
que pensa, senti e defende
seu lado.
(ainda que ele possa reverter)

Reverter também é existir,
- Me nego ser poupada.


terça-feira, 15 de março de 2016

...

E se eu tomar com delicadeza a palavra sem assusta-la, pediria para repousar nesse espaço trincado em que acorda minha aflição, completaria de sentido onde não existe algum, e traria a luz carinhosa de um aconchego longínquo... de um tempo abstrato em que não havia o peso e a partida.

sexta-feira, 11 de março de 2016

quinta-feira, 10 de março de 2016

De quem sou.

Confesso que quando me param nas ruas de SP e perguntam: "Você gosta de poesia?" Respondo : Não!. Saio rindo internamente, satisfeita de assustar meu eu romântico, ele precisa disso as vezes.

Pedro Persona

As 7h da manhã no metro paulistano, a alma amarrotada disfarçada de pressa, os esbarrões atravessados e ignorados pela desconfiança virótica no ar, dentre eles, ele lê, olhos miúdos repousam concentrados no livro de histórias galácticas.

No outro braço uma pasta verde direciona meu olhar, algo ilegível sobre sociedade. Me instiga. Entre o espaço e o urbano, alguém se abstrair em si. Ele não me vê, empurra os cabelos distraidamente do olhar, é bonito, feição desajustada do meio.

Um barulho chama a atenção, ele me olha por cima dos óculos, um olhar entre a senilidade e a brejeirice, fixa, mantem por alguns segundos, olho para baixo, a timidez sempre ancorada no meu peito.

Esses segundos, o recriam em mim. Penso nele a partir de então, dou-lhe nome: Pedro, combina com a rigidez da cidade, ainda que apele sempre para beleza nostálgica, do seu oposto da madeira, do campo, nome simples, mas ele me parece composto, completo: Felipe. O corpo é de mocidade, sem a rigidez máscula, mas de penugem leve. E aquele ar aristocrata combate com seu tennis rasgado, tipico de adolescente, com cadarços verdes, concluo: Há de ter humor.

Estranho como as vezes abrimos tanto olhar para o que desconhecemos e esquecemos do detalhe presente... dos gestos belos de quem nos cerca rotineiramente..

Mas, Pedro agora esta perto, vive em mim, em algum tempo.. pensar no tempo, escurece meus sonhos, sempre ele, a entregar de bandeja as virtudes para serem gastas, os encantamentos para serem padrões, ele que deveria ser aliado dos amantes, passa a ser delatante estoico da imperfeição humana, ele que deveria despir de insinuações e doloridas passagens...cria rígida distancia aos distraidos, que pensam que algo sobrevive sem os cuidados mansos e guerreiros

Vive em mim, e por viver se transforma. O rapaz do metro, agora almoça comigo, come e estala os dedos de prazer, se mostra mais vivaz que seu silencio intelectual. Saboreia iguarias, gosta dos sabores compostos e da estética do café. Quer alcachofras, pinhões, quer o trabalho de se alimentar, quer algum ritual em comer, algum charme em experimentar, quer montar gostos, não se apetece pelo simples e pela comida diária, como seu nome: Quer compostos, quer compor: Uma vida que diverge. Diz amar os opostos: Ser humano é complexo, que bom.Afirma.

Afirma pouco, alias. Prefere ser medido nas palavras, nas escolhas, compõe o sabor, mas enche de precaução os ingredientes, gosta do seguro. Enquanto não sabe, se tranca, entra em contato com suas dez camadas, e quando chega no ser pulsante, carrega o subterraneo de Hades, confesso que peço as raízes, mas as camadas trancadas não permitem escolhas, sabem só que querem sair, entende a erupção.

Agora eu e ele, já somos um certo nós, meio avesso de tantos opostos. Meio praia, meio ar. Meio estrada, meio nuvens. Meio discurso,e alguma ação.

Na mesa de marmore imaginária, discutimos. Eu me inclino e ataco, ele ataca e inclina. Nota desafinada em um coro de dois. Ele dança bolero, eu me arrasto no blues. Ambos se machucam.

Tento contar no mundo aqui de dentro, tento ver o dele, mas é dificil, somos sempre a medida da realidade.

Tento contar que aqui dentro me desmancho de carinho e que não sei o que ocorre, e como ele se mantem planta aquática enraizada sabe Deus onde, mas não desmancha, não se move para fora, esta ali. Estou lá fazendo uma cabana quente para viver tambem, sei que ele me guarda como eu o guardo, e que ainda esbarramos os olhares curiosos e instigados, e agora a pergunta se derrama de generosas águas, fundas de tantas dores e tardes sadias... um ainda olha para o outro, e meu encantamento permanece.


Desengano.

Nunca escrevi uma poesia completa
escrevi camadas
as repeti
e repeti
pensando que me despiria
Me veria ali
exposta e alheia
Veias pungentes
Acordada com as palavras
Sempre ancorada em mim
Esse todo em que me encontro sendo,
Descer de si
era o lema
sair do centro
marginalizar cada raciocinio
Escandalizar a luz
Encantar a lama
Por fim
Enudar-se
Inundar-se
Achar o umbigo central
e virar como um filtro de café usado
refeito
novo
Limpo
Achado.



Do Adeus.

Ele possui a chave
eu possuo o corpo
Eu sou copo,
mas  recusamos a ser liquidos
queríamos ser sólidos
queriamos ser sóbrios
e de tudo só sobrou o que se espera
Pó e palavras,



Caminhos.

Eu plantei sementes
e não colhi frutos
tomei os sonhos
que orvalhavam
em suas folhas.


Sobre.

E dessas paixões o gemido estridente
vazando alheias ao nada
Derramam-se em agudos
estilhaços quentes
Pontuando cavernas alheias
de estalagmites vermelhas.



sexta-feira, 4 de março de 2016

Cibely.

A Ci esta sempre com saudades de si
de um eu perdido por ai
entre a esperança e a descoberta
algo apagado nasceu
bem no meio da sua garganta,
ela tosse, mas não sai
só empaca as palavras,
Mas mais do que ninguem
embora não saiba
Ela mimifica
dança
pinta, escreve
vira o diabo do avesso, mas sempre acha
a beleza em algum canto
e desse canto faz samba, faz folia
depois descansa por um mês
no subterraneo
Exausta, caçando as cores perdidas do arco-iris
Mas, não se engane
nada se apaga
Nela,tudo candeia.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Um brinde a Sanidade.

E hoje eu levanto os braços e os copos para a sanidade, para a água límpida que nasce mirrada no meio das pedras, um brinde a saúde diária, ao acordar com Ravel, ao chá de alecrim, ao chão encerado. Um brinde a luz clara da manhã que se dispôs sem euforia no céu.

Um beijo soprado de leve nos pés lavados, na cama arrumada, no rosto sem maquiagem, nas paredes pastéis desse quarto são.

Pois, de loucura o mundo esta abarrotado!

E os que se vestem de loucos, mal reconhecem o que os inspira, e os que o fazem, tantas vezes se perdem, e nessa pirotecnia queimam sem parar, sem beberem da inspiração, são tomados dessa euforia sem direção, tantos que quis bem, tantas que admirei, mergulharam de cabeça, onde deveriam aprender a boiar antes de submergir, para saber que o subterraneo nos faz inteiro, mas sem a luz diária somos apenas marionetes dos desejos incessantes que nos arrebentam nas pedras rígidas e instáveis das paixões.

Um brinde ao cultivo da terra, ao tempo da espera, ao olhos abertos para o outro, um desejo de bondade prática, de amor diário.

Falo isso pois sei do seu oposto, sei dos extremos que atravessam a noite e nos emaranham nas certezas de sempre querer mais, sei do fogo, sei do elemento chave que desencadeia a Alma na pele a princípio, por fim a alma nos ares, voando sem rumo por ai, sei bem, não existe leveza nisso.. nem uma verdade que resista,

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Dos delicados desassossegos.

De vez em quando, por mais rígida que seja a porta, a campainha dispara em som de asas de borboletas azuis...não é preciso cavucar a fundo a memória para saber do que se trata, nos despedimos por tantas vezes desse som a base de troncudas porradas e ainda sim..sempre o movimento rasteiro umedecendo as raízes de encantamento,elas vem...aliás, elas não vêem o mundo desastrado do contagio frio com o "real", elas não vêemo caos sem estrelas a dançar, elas batem encantadoras como a alegria despida de razão, figuram novamente o mito eterno da pureza primordial, ainda que no barulho do vento que faz seu movimento descompassado dançar seja de terror e solidão.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Destroços.

Saltou a primeira grande pedra da entrada, não haviam portas, era oficio de saltador entrar ali.
A cor desoladora variava entre ocre e nuances de cinzas, encardido, desolado. O cheiro remetia a algo morto, de todos os sentidos, um espaço decadente.
Soprou as paredes e viu escrito: Não entre!, um alerta de certo desapercebido.
Em todos os passos a gravidade quedava mais e mais...aquele soco no peito que fazia os olhos marejarem...porque estar ali?. Não veio por contra própria, mas entrou, nesse mundo subterrâneo, desabitado de alma.