domingo, 27 de dezembro de 2015

Essa tal da esperança. 2016

Esses estouros no céu não assustam as estrelas
O novo chega manso, mensal
e nos acorda no final...
Seria ingenuo debulhar uma prece?
assim o faço
ancorada no mar,
julgo vazia a palavra
que me vem assustada de algum plano astral:
-Felicidades.
Abre alas e entre elas incompreendida, brilha.


 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Para partir o silêncio.

Há de se ter coragem de dizer após longo silêncio. Nos alimentamos das palavras mal digeridas, sem sabor, sem tato, apenas as comemos, comida que te mantem de pé e sem distinção escorrega pela alma a dentro, tem de se ter coragem para esmiuçar aquilo que te fez calar.

Por dentro as camadas divergem do espaço, se atracam uma após a outra, retornando ao caos existencial, é trabalho de rendeira e de faminto ressuscitar aquilo que pousou sem querer ali.

Eu recorro as fotografias expostas nos assoalhos da velha casa, e nos olhos antigos um porém distante, recorro as flores a qualquer que me diga que ali fora a vida continuou a correr, e colho com o olho marejado meus rastros, me alegro de ainda chorarem. Me recolho.

Se falar da tristeza, minto. Não é ela que me cala, o que sobressai é a grossa pele que se recusa a descamar, e que eu tento me despir, a languidos espasmos.

O que eu tenho a dizer?

Que eu tendenciosa a devoção, agora rígida, acuso o tempo e me reflito também, volta de passo em passo para a pessoa aqui dentro que me espera.

sábado, 27 de junho de 2015

Do desencontro.

O sinal abriu antes do ponteiro marcar 6h, horário dileto do peito dela, acelerou e desejou esbarrar com ele ao abrir a porta, naquele preciso momento em que a alegria se fazia mais presente e uma euforia tipica, até mesmo de sua infância cantasse mais alto, ainda que fosse um canto breve, explodisse e se tornasse espuma rarefeita do tempo novamente, apressou o passo, estava decidida a ignorar que logo em que o relógio desabasse a anoitecer, teu peito também voltaria manso para a noite. Não queria saber.

Queria chegar logo! onde ele esteve na outra semana, e como que marcado repousar o peso dos seus ombros em um solo mais forte, mais tenro, mais terno, mais terra, deixar o devaneio existencial do lado de fora, e ser mulher nua largada no taco morno.

Era só o que queria, de toda a metafisica restaria a fumaça no quarto traçando piruetas pelo ar e escapando por suas narinas, a fumaça pontuava a dúvida com uma marcação legitima e final, deitaria seu corpo e deixaria toda umidade lembrar seus poros o que é ser animal orvalhado.

Era só o que pensava, entre tantas mãos e direções apontando para objetivos que ela ignorava, arrancava e surrava, sabia se despir, aprendera a duras penas, arrancar a mascara quando era preciso, isso a salvara de se perder na pose altiva de mármore inacabado que a sociedade lhe pintara.

Entrou sem bater, sorrateira,postou a maça na escrivaninha onde antes havia um grosso livro,  jejuou o pensamento na meditação mais carnal que lhe coube e aguardou...


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Flauta.

As pessoas ficam tão mais belas em silêncio, no acerto que pincelo para a paisagem ensolarada, os corpos vão se encaixando na luz que canta sem precisar dizer nada do tempo. Tudo flui, O sol com sua ancora se aquietando vai acalmando as pretensões de ser, os verbos soltam seu peso e transmutam-se em  palavras que foram usadas e deixadas para a passagem... eu encaro e desencarno a sombra da pergunta, ela emergi e aprende a boiar, por fim se dissolve... tão mais belas...o eu descansa.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O sopro.

Moi je t'offrirai, des perles de pluie venues de pays
où il ne pleut pas
Je creusrai la terre jusqu'aprés ma mort
pour couvrir ton corps d'or et de lumière
Je f'rai un domain où l'amour sera roi
où l'amour sera loi et tu sera reine.


                                                                               (Jacques Brel)


Deixei as cores escorrerem pela porta e entrar, pingando sorrateiras, mergulhavam a brancura que havia em meu pensamento, fios rastejantes, por fim marés vermelhas, amarelas, desesperadas de alegria, sedentas por tingir novamente meu coração, que vigiava as horas, tentando compreender a noite.

Permiti, descolei a margem e dei passagem para as águas varrerem minhas certezas, e esse poço que apostava seco, vingou-se em me afogar com todas as vozes do passado e o clamor acelerado que um dia soltei em meio aos cabelos dela... todas as vezes que nos seus olhos sombreava a dúvida de estarmos ali, somente eu e ela.

Sabia, e definia o fim da linha naquele juramento que trocávamos para amarrar o tempo com a eternidade, traçando com beijos agoniados a boca do efêmero, calando-o para não amargar a fruta que já nasce sabendo que será terra, e aquele amor que já é velho por ser de todos os amantes, se fingia novo, recriado naquele minuto em que nossos olhos se embalavam, o poder indomável de tê-la ali, crescida raiz em meu peito.

As cores vinham e se derramavam, sem pudores diante meu rosto esfomeado e sarcástico e eu não me movia, ao máximo contraia um sorriso estático de quina para repousar meu desprezo ao seu mundo pueril de cores primárias, débeis, que sabiam elas das entrelinhas? e das mesclas desformes que haviam no amor? as cores só sabiam gritar, arrancando do meu silêncio um resmungo senil e da lembrança um desespero rouco de quem já se rendeu.

Ela era a deriva dos meus dias certeiros, ela trazia na sua boca os corais e os sons do oceano que divagavam minha escuridão, ela era o lar e o laço, colorida por essência, ela era a remota passagem e a miragem desajeitada de quem não se entrega ao deserto da razão...

As cores me remoíam, e eu me cobri de teias e me virei seco para o oposto, na parede salva de branco, fechei os olhos e não sonhei.


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Clara I.

Dos cacos sobrepostos no travesseiro, ela devaneia, cria piramides e junta mistérios, prega toda estripulia de belas palavras, abraça todo o  pó de estrela e de flores que lhe cabe, amanhece lírios, remói beijos, prega com cálida fé resposta doces, tão doces como abelhas a fazer mel.
Ela repousa nos cacos e no caos imaginário onde vivem as outras respostas,essas ela aponta para o fim das portas, tão fechadas em si mesma, ataca a feiura com uma proeza de vilã, só que as avessas, já não se imagina a mocinha da história, mas ainda se permite a bipolaridade humana, não claramente...só as escondidas, ao longe cantam sinceros sábias e ela recorre ao sopro dos seus lábios para outra conversa fantastica.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tudo que se abre em meus lábios carrega o "mas", são tantos poréns para desentortar essa arvore de caatinga que carrego. 

É só carne, carne, sangue e certo estupor. Carne, tempo e terra. É vermelho não mesclado, é cru quando não á sol, e quando ele vem é dia e assim corre o tempo, errado, não corre, o tempo divaga o resto são nossos pensamentos de reticências embarcando ritmo para corromper o acaso.
É tudo carne e acolá alguma flor, que não é carne e sim caule e seiva.De resto somos nós, meio ordenados e um assombro de animal calado que brinca com as pedrinhas manso e domado nas águas amortecidas, de fato ele salta bestial e rancoroso com a palmada da negação ou se desfaz em promessas brilhantes e apontamentos estelares quando recebe o afago tão contido da vida, mas de resto afirmo, é carne.