quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ninguém.

Ninguém aparecerá na esgueira dessa porta, abrindo uma outra aurora para esses olhos cansados de tantas estações, ninguém virá sorrir teus beijos quando disposto ao silêncio entregar ao tumulto alienante do seu próprio eu, ninguém vai fazer folia com sua imersa alegria nem enterrará em cerimônia a pandemia de suas vísceras sagradas, nenhum broto vai nascer no tronco amargo da sua medula espinhal caso se aposse da pose agreste de feto mau concebido.

Não existe espaço para que o vento cante quando a ausência de amor...(ou algo que se assemelhe a isso) faz morada, não existe chance para quem não sabe se virar do avesso, quem espera sem acenar, quem pedi sem dizer nem olhar... não existe outra voz para quem não enfeita seu próprio canto, não existe verdade que caiba em quem só vê o ponto que lhe dói, não existe paixão que sobreviva a pressa, não a prece que salve o   si de ser a si mesmo.

Não existe leveza para quem ignora o peso, nem para quem supõe-se mártir a carrega-lo. 

Existe uma sabedoria minima em se viver bem apesar de...apesar de...
Ninguém te ensina isso, nem livros nem conselhos... vamos batendo e errando, batendo e acertando...parando de bater aprendendo a desviar sem deixarmos de nos despir...livres.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que eu vi. Marcha das Vadias.

"Tire seu rosário do meu ovário."
(Cartaz da marcha 2013)

O corpo choca e instiga. 
Nus seios todos lindos para fora da roupa, grandes, pequenos, multicoloridos, sem rostos expostos, despudorados e gritantes. O seio é o primeiro mensageiro, depois do torpe o grito: Respeito. Continua chocando, depois mais gritos centenas deles, vozes masculinas, infantis, idosas, indefinidas... a mensagem é clara, mas os olhos não saem dos seios,nem os flashs.
Escrevi alguns textos sobre ser mulher durante minha vida, e em cada tempo que vivo mais sinto o peso que o gênero traz em nós, não só o que somos individualmente, mas um plural feminino. Muito me incomoda o sexismo, mas isso nada tem a ver com isso, tem a ver com a herança viva de ser mulher e de ter o desprivilegio "cultural" latente e escancarado ou enrustido e desmedido.
Quando digo cultural, tem de se colocar em aspas para não soar como justificativa, que de forma alguma haveria. A cultura da predominância e da força sempre tendera a abafar as vozes que ainda não bem se definiram. Falar que existe igualdade entre homem e mulher é ignorar as estatísticas e os números, tão mais valorizados que as vozes soluçantes.
Eu cresci ouvindo discursos absurdos sobre o dever feminino de submissão, ou aquela valorização do "joguete feminino de manipulação" como se a mulher precisasse fazer escambos de sorriso por sua liberdade, como se fosse natural termos sempre caracteristicas ditas femininas, comportamentos como tal e tudo aquilo que ultrapassa a barreira imposta, fosse uma ofensa um ataque.
E ouvi discursos de homens e mulheres da mesma forma, ouvi mulheres que foram violentadas, espancadas, seu psicológico e coração triturados defendendo discursos de submissão. Ouvi mulheres que são coagidas verbalmente, que sofrem receios claros de ter seu espaço corporal invadido, ofendendo mulheres que não se comportam da mesma forma... ouvi homens falando tantas asneiras que meu lado violento quase vem a tona.
Confesso que essa luta de generos para mim já se tornou cansativo, parece que o ser humano se recusa a evoluir, parece que quanto mais urbano, civilizado e orgulhosos de sermos sociais, mas o lado animalesco grita e ataca o corpo ao lado, a violência sexual que é sempre os números mais chocantes, me feri em especial, além do óbvio :é um tipo de violencia que detona sua autonomia e te transforma em objeto(que ser humano suporta isso sem amputar uma parte essencial de si?) mas por ser a violência mais escancarada, mas sem vergonha de existir... mais enraizada, dita aos ventos sem ser segredo, no mêtro, no onibus, na rua, em casa, no parque em todo espaço, se não tomarmos cuidado nos acostumamos a ser alvos, se não prestarmos atenção quase sentimos que somos caças, que somos presas... o que não é nem nunca será verdade. 
(...)
E nesse coletivo é bom gritar, é bom bradar bem alto...sem pudor. é bom lembrarmos o que somos! nessa festa, nessa luta é bom ver o que feri ferindo sem se esconder, o que machuca sangrando sem se envergonha, todos os tambores e os risos por ser divertido o corpo, por ser gostoso viver livre... por alguns momentos amei todas elas, amei todos eles que estavam... e toda a alegria em um momento fez silêncio quando gritaram e lembraram os numeros de casos de violência, desnudaram a verdade da mulher exposta...vitima,isso feri, me feriu,as estatísticas... e de repente todos aqueles risos, se transformaram em lágrimas pelas lembranças suas ou de outras...então eu vi, um mar furioso e lindo em cada olhar.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Uma conversa...


 "Camila, a culpa é do opressor e do oprimido" assim finaliza a conversa intimista com meu irmão, acabou porque cheguei a conclusões enfim e entendi o que ele dizia. Concordei sobre o que falávamos.
  Tudo vicia, inclusive o que nos faz mal, alias se é vicio não é algo bom ainda que possa nos dar prazer, vicio tem a ver com o oposto da liberdade e a falta de liberdade aguça o medo, de perder o que? se a nossa vida e nossa autonomia é o que mais temos de importante e ela já foi trocado por algo, certamente pouco verdadeiro comparado ao que realmente somos, essa necessidade descontrolada sempre nos diminui e isso é um desperdício de Vida.
    Não adianta culpar o outro pelas dores que causou, não adianta culpar a mim por tê-las sentido... isso multiplica as dores, aceitar e entender, tentar limpar caso não possivel acalmar, e guardar em lugar arejado, próximo aos carinhos imensos que tivemos durante a Vida... próximo a ideológia ou a fé que nos mantem de pé, próximos as gargalhadas gostosas que brotam quando nos distraímos do nosso próprio umbigo.

 Resumo da prosa: levar a Alma para arejar salva Vidas.
    

Eugenia

Eu quero um pé de pitanga para mim
Eu quero pitanga no pé
Eu quero as estações da Pitanga em mim.

Eu quero uma casa com beijos de pitanga vermelhas no jardim,


Obs: Mas pode ser de amora ou jabuticaba também.

Elena, os Outros e Nós.

"E as dores vão se transformando em águas e vão indo embora."
(Trecho do filme Elena)

Pela primeira vez vejo pessoas ficarem sentadas em suas cadeiras após um tempo do término do filme, ninguém se movia e as letras dos créditos já estavam acabando ao som do que parecia ser a banda Daughter... as águas, tantas vezes suscitadas no documentário parecem ter transbordado em algum trecho da tela e as pessoas entraram em si, boiaram.

Não existe nada de "grande" no filme, existe uma irmã e suas memórias afetivas, uma mãe e sua dor escancarada, uma Honestidade tocante e uma poesia em mostrar o interior de algumas pessoas com uma voz mansa e uma delicadeza feminina de vestidos floridos que flutuam... e se permitem entrar no limiar da beleza e do abismo, para encontrar a arte e fazer dela um sentido para vida, alias esse é o tema e esta ai sua grande verdade: nem sempre encontramos.

E dou crédito a essa lacuna de possibilidade o estarrecimento das pessoas imóveis, a morte, a vida, a depressão, a alegria, a paixão, a felicidade, a solidão, o amor... tudo exposto, sem vergonha da infelicidade, sem vergonha da afeição terna rotineira e salvadora, sem recuar na dor da morte, encarando e gritando o discurso oposto do que é o Slogan atual: Sermos sempre felizes, ou ao menos demonstrarmos isso.

E a grande questão é: E se não formos? se não formos o que se fará com o resto de nós?

Somos um mosaico de tantos opostos que se encaixam e que as vezes precisam ser quebrados para construírem um inteiro, essa ambiguidade da mesma linha que é a vida, tão maravilhosa em sua essência e tão esmagadora as vezes em nossa diminuta aparência. O que fazermos com o resto de nós? a parte obscura a parte feia? com a parte em que a beleza chora e se transfigura? 

- Dar luz.

Nossas sombras se alimentam do que a gente esconde, esconde tão bem que nem lembramos o que era tão ruim que precisava ser esquecido a tão duras penas, mas a verdade é que não temos repartições, em partes somos líquidos em nós mesmos, as marés dos acontecimentos trazem a tona naufrágios expurgados do convívio por serem grandes demais, por serem pequenos demais para os outros, eles vem e já não aparentam serem objetos que possam ser iluminados, mas se caracterizam como espectros do limbo, e ai tudo fica mais difícil de ser limpo, de ser saudável.

A sociedade exige de uma forma quase simpática que sejamos homogêneos e é com a mesma simpatia que se cria os marginalizados da recusa: recusa libertária de dizer: Não, e a recusa marginal de não ter voz o suficientemente alta para dizer: Sim. Enquanto pudermos fingir até mesmo acreditar que fazemos parte dos que vencem tudo Ok, e quando formos atacados pela bestial dúvida existencial, não é difícil que cambaleamos sem saber para onde ir e carregando a culpa de se sentir triste.

Sai do cinema com a frase do Jung na cabeça "Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos." é isso, não aquilo que pensam de nós, nem aquilo que fingimos ser, mas o que somos... as vezes é necessário domesticarmos nossos monstros para encontrarmos o tesouro no nosso próprio jardim, e é preciso encarar a desprezável morte para entendermos a beleza singela de viver, é necessário aceitarmos nossos opostos para que possa haver equilíbrio.






terça-feira, 14 de maio de 2013

Entregar-se II.

E o Amor também tem a ver com limpar a bunda do outro quando esse esta de braço quebrado ou qualquer outro motivo que impossibilite a tarefa, aguentar a mesmas historias sempre, tem a ver com acordar de madrugada para fazer chá para gripe e tem muito a ver com ceder as vezes o conforto da sua felicidade individual para entrar no caos do outro e ambos saírem de lá fortificados... entrelaçados.

http://www.laurenfleishman.com/personal/loveeverafter/loveeverafter2.php

Juro que essa é a ultima postagem da semana sobre o Amor rs... to ficando obcecada pelo tema...

Partirei para politica.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Entregar-se.

É preciso uma capacidade minima de devoção para Amar e vivenciar isso inteiramente, não necessariamente ao outro, mas a si próprio, não de uma forma egoísta ou possessiva, o Amor tende a nos alargar, nos ampliar a mente e a alma, tem por objetivo trazer a tona uma parte do destino, um caráter de Deus.
Devoção tem a ver com escutar seu coração, tem a ver com calar a multidão, estreitar o Mundo a um grão de areia e nesse ponto perceber o Infinito. Amar tem a ver com expurgar demônios e anjos, desnudar-se e verificar os espaços feios e belos de cada um, o problema disso e sua majestade também, é que ele não se dá por simples querer, nem por escolha total, o Amor que falo é a sorte única do encontro.

E quando ele chegar, caso chegar... a piada maldosa, é que podemos simplesmente joga-lo fora ou diminui-lo a tantos outros.

sábado, 4 de maio de 2013

Madrugada.

Para dentro,
cada vez mais dentro
até que eu vire do avesso
E as estrelas em cima
caiam, e eu aprenda a andar
na via lactea de mim.
Com Alegria.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Tumbalalaika.

"...Rapaz tolo, para que perguntar?
Uma pedra pode crescer, crescer sem chuva.
O amor pode queimar sem nunca parar,
Um coração pode ter saudade e chorar sem lágrimas."

Afago.

"Estrela, estrela

Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer
Brilhar, brilhar
quase sem querer
Deixar, deixar,
Ser o que se é"
(Vitor Ramil)

Um suave beijo para o espaço livre em mim 
e de toda essa nudez que hoje me encontra
me entrego humana ao espaço...
Eu finita e feliz por isso.
Eu eterna e feliz por isso.
Aceito o afago meu Deus...


  (Foto: Alberto Kirilauskas)