quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Das coisas.

Eu encontrei uma pedra no meu caminho
e ao piscar era um monte
mais ingreme que as paredes de lá
Se nas mãos houvesse apenas flores para carregar
Subiria e teria a vista de quem vê do alto o espaço
Dos passaros e de longe
imaginaria com desdem as ancoras
Mas, alem de flores haviam flechas
e uma longa mala nas mãos
Os pés já cansados,
e nenhum lugar para repousar...
A boca enchia de água
até mais que os olhos
ao pensar que poderia descansar
sonhar com redes
e plantios
Mas, sonhar inflava sem alimentar
Era apenas um pequeno trecho
onde tudo era quente e sadio
e depois deserto e cactos.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

...

É possível se perder em um abismo? Na minha mente simples perder-se não tem a ver com o espaço vertical, penso em lados a seguir, mas perder-se na queda parece pouco provável, talvez estar nele já é estar perdido, perder-se nele é uma proeza de poucos.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Jangadeiro I

"Todo abismo é navegável a barquinhos de papel."
(Guimarães Rosa)


A noite ondas  gigantes batizaram meus sonhos de desespero, poderia beber as águas escuras das minhas magoas, mas elas não saciam, nem os salgados apelos líquidos que fazia para o amanhã, para o dia, eram apenas margens de água e a minha boca seca gastava sua ultima saliva para embebedar a bussola para uma direção... um prumo, poderia ter escolhido uma saliva de prece, um beijo de despedida...enfim.

A verdade é que o horizonte era mais uma linha obtusa do que um plano a seguir, mas ainda sim me embrenhava nessas águas, sou aquática por natureza, achava que isso me salvaria... mas, nenhum conhecimento é suficiente perante alguns caprichos da Vida... e esses tempos, bem se sabe, são de líquidos diferentes... não se misturam aos meus, nem sangue, nem gozo e nem lágrimas. Pesam menos. Existe pouco espaço para os animais densos dessa espécie, mas isso talvez seja apenas mais uma das tantas pretensões tortas que vamos somando no caminho.

Mas, bem sei que o que era certo, é que queria o caminho, e visto de longe dizem, a ilha é melhor vista, mas confesso que não se deve afastar tanto, correnteza é forte, as correntes também, melhor estar perto de si, perto da sua imagem primeira.

Alias, espelhos haviam centenas cada qual com suas fases, mascaras e retratos todos eles verdadeiros, tão compactos ao meu pulso que mau saberia dizer quem é a de hoje, uma soma de quem nunca foi muito amiga dos números, essa era eu.
...
A noite é um tempo que me acalma, ainda que eu seja do dia, mas sou do dia depois de um tempo, no inicio era breu, depois houve as palavras, o consolo e o mar, ai me recolhi com algumas estrelas que me consolaram das barreiras erguidas, eu elas e os espelhos, muitas coisas mais, inclusive amor.

Quando fecho os olhos vejo uma agulha costurando um tecido, há dias penso nisso, Tão arbitrário, se considerar minha destreza com os tecidos, mas essa é a imagem que me segue... a mão que costura os trapos, ou os novos

(...)