sábado, 21 de fevereiro de 2015

Flauta.

As pessoas ficam tão mais belas em silêncio, no acerto que pincelo para a paisagem ensolarada, os corpos vão se encaixando na luz que canta sem precisar dizer nada do tempo. Tudo flui, O sol com sua ancora se aquietando vai acalmando as pretensões de ser, os verbos soltam seu peso e transmutam-se em  palavras que foram usadas e deixadas para a passagem... eu encaro e desencarno a sombra da pergunta, ela emergi e aprende a boiar, por fim se dissolve... tão mais belas...o eu descansa.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O sopro.

Moi je t'offrirai, des perles de pluie venues de pays
où il ne pleut pas
Je creusrai la terre jusqu'aprés ma mort
pour couvrir ton corps d'or et de lumière
Je f'rai un domain où l'amour sera roi
où l'amour sera loi et tu sera reine.


                                                                               (Jacques Brel)


Deixei as cores escorrerem pela porta e entrar, pingando sorrateiras, mergulhavam a brancura que havia em meu pensamento, fios rastejantes, por fim marés vermelhas, amarelas, desesperadas de alegria, sedentas por tingir novamente meu coração, que vigiava as horas, tentando compreender a noite.

Permiti, descolei a margem e dei passagem para as águas varrerem minhas certezas, e esse poço que apostava seco, vingou-se em me afogar com todas as vozes do passado e o clamor acelerado que um dia soltei em meio aos cabelos dela... todas as vezes que nos seus olhos sombreava a dúvida de estarmos ali, somente eu e ela.

Sabia, e definia o fim da linha naquele juramento que trocávamos para amarrar o tempo com a eternidade, traçando com beijos agoniados a boca do efêmero, calando-o para não amargar a fruta que já nasce sabendo que será terra, e aquele amor que já é velho por ser de todos os amantes, se fingia novo, recriado naquele minuto em que nossos olhos se embalavam, o poder indomável de tê-la ali, crescida raiz em meu peito.

As cores vinham e se derramavam, sem pudores diante meu rosto esfomeado e sarcástico e eu não me movia, ao máximo contraia um sorriso estático de quina para repousar meu desprezo ao seu mundo pueril de cores primárias, débeis, que sabiam elas das entrelinhas? e das mesclas desformes que haviam no amor? as cores só sabiam gritar, arrancando do meu silêncio um resmungo senil e da lembrança um desespero rouco de quem já se rendeu.

Ela era a deriva dos meus dias certeiros, ela trazia na sua boca os corais e os sons do oceano que divagavam minha escuridão, ela era o lar e o laço, colorida por essência, ela era a remota passagem e a miragem desajeitada de quem não se entrega ao deserto da razão...

As cores me remoíam, e eu me cobri de teias e me virei seco para o oposto, na parede salva de branco, fechei os olhos e não sonhei.