quinta-feira, 28 de abril de 2016

Estopim.

Sinto a ponta dos meus pés geladas, a primeira peça que vi foi Valsa n.6 do Nelson Rodrigues, fiquei encantada, lembro da vergonha que a personagem Sonia sentia dos pés, não entendo... e hoje que esse pensamento me veio rápido na mente, entendo ainda menos, a alegria de sentir o frio no meu corpo desmancha qualquer mensagem as entrelinhas de algum inconsciente perturbado...meus pés gelados me fazem sentir bem, sentir o meu corpo...

A vida  é cheia dessas patifarias de extremos momentos, ao menos a minha é, ontem rasgada, hoje alegre por estar no frio... pensando de leve em todas as poéticas que combinam com as nuances do dia...e suas belas passagens.

Meu coração pesa de saudades, mas me envolve uma bruma de Vida tão macia e jovem que não posso evitar de colocar minha coragem nas costas e sair para a rua...para o que vier. Aceno, inclusive para a chuva.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Reconstruir.

Uma mesa
Uma pá
um discurso
certas imagens
O suor caido pelo sol
na ação de
Caçar sementes uterinas.

é.

"...Did I dream you dreamed about me?
Were you here when i was full sail
Now my foolish boat is leaning..."


As conchas vazias
casas que deixam de ser
Largadas na areia
mesclam-se  minusculas,
pequenos pontos finais
que vão pelas marés
repousar em um mar de ditos
mal cumpridos,
Tão precoces em findar...
Piso com meus pés finos
e me entrego
a mais um fim.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Quando eu ando...

Quand Je Marche

quando eu ando, eu ando
quando eu durmo, eu durmo
quando eu canto, eu canto
eu me abandono...
quando eu ando, eu ando direito
quando eu canto, eu canto nua
quando eu amo, eu amo apenas a ti
quando penso nisso,
eu não durmo mais.

estou aqui
estou dentro
estou de pé
não irei mais zombar de tudo

escute, tu (me disseste)
(o canto do mundo) a hora de chuva
quando a alvorada se levantar, estou lá
e quando a noite cai,
eu caio também

estou aqui
estou dentro
estou de pé
não irei mais zombar de tudo

quando eu tenho fome
tudo me alimenta
o uivo dos cachorros, depois a chuva
quando tu partes, eu fico aqui
eu me abandono
e eu te esqueço.







terça-feira, 12 de abril de 2016

Desabafo.

O intenso trabalho de tirar a sujeira do armário, da cama, do pensamento e das memórias.

Tirar as pedras do caminho, tirar a palavra mal mastigada, aquele peso de lágrimas que se enroscam por anos na garganta. Sei que não existe tempo suficiente para limpar tudo que me torce o peito, que me diminui a Alma... toda essa confusão, esses destroços e essa magoa mesclada de culpa.

Esse peso que me enverga a coluna de não perdoar o julgo que me deram e a ausência de cuidados que tanto precisava, essa força que me gabo e que as vezes me julga e prende. Essa robusta marca de quem enfrenta de frente, supondo que a onda é sempre menor e quando pequena intuindo as tempestades que surgirão.

Esse trabalho é de uma vida toda, mas sei bem que Ela pede urgência, me coloca sentada, parada, muda para mastigar e enfiar engolir o amargo que não alimenta, mas de certa forma cura, porque assenta as dores na nossa Alma eterna, dor essa que foi vista, não ignorada, pois já sei bem que esse seria o pior caminho.

Me impressiona demais a Psique humana, Potencialmente maravilhosa e corriqueiramente baixa, com armadilhas tão reais que é possivel sangrar por elas..esses míudos cacos passados que ainda me lacrimejam os olhos e me guiam para erros já intimos do meu coração.

Porque no fundo o clamor é romantico no seu triangulo de perfeição: Beleza, justiça e verdade, mas por ora debate-se todas as miudezas que cada oposto dessas palavras carrega... agora penso na capa do Pink Floyd e seu prima, trazendo da luz branca suas outras muitas facetas coloridas...eis o potencial, mas tanto se perde em alguma buraco negro que nada reflete, nada transforma, só se alimenta das nossos medos passados e das nossas confusões terrenas.

Sempre  achei que os relacionamentos amorosos tendem a ser uma valiosa porta de conhecimento, ele ativa uma parte tão viva e cheia de energia em nós que tudo se renova, gostos, texturas, esperanças, todo aquele movimento raro que traz a beleza a tona, que enche de sentido as horas... por seu oposto compreendo que vem deles o grande expurgador de complexos, ele desenterra monstrinhos esquecidos, toda magoa amorosa vai na minha medula primordial, move meus ossos, meu sangue... minhas marcas.

Amor é Renovação sem dúvida, nem que seja a base da hemorragia!

 As vezes eu acho que é uma questão de aguentar... li esses dias que Amor é "ficar quando cada célula do nosso corpo nos manda fugir." Faz sentido. Muito sentido, alias.

Confesso que tenho fugido demais, animal mais acuado esta dificil de encontrar.

Com o tempo percebo que a grande sacada...a grande vitória ou verdade digna de ser proferida nessa vida é: Ser fiel a sua melhor parte. Grudar nela, lutar por ela com toda sua força e amor e quando estiver arregaçado(porque a vida tem dessas coisas...) continuar firme, não mover os pés!- depois a gente fala das asas, no vento e da leveza, mas hoje falo de raízes- existe um mundo todo querendo ter mais pés para ele pisar e faze-lo correr mais para o abismo... não quero ser um deles, ao menos se já estou sendo, não quero mais...

Me interessa saber como limpar minha Alma. Me interessa não voltar a infancia primeira e me acuar na ingenuidade, isso seria perder-se, perder ao tempo... me interessa como ser integra sendo a mulher que sou, tendo as dores que tenho, as lutas que passo, os amores que carrego, os amores que perdi... me interessa a concentração de desatar meus nós.

Estou profundamente desinteressada em parecer interessante nesse momento. Em soar leve, em vender alguma alegria... me disporia a andar surrada, descabelada, ignorada, qualquer coisa, desde que aquela passaro...aquela alma, vibrasse inteira em minha pele.





sexta-feira, 8 de abril de 2016

Versão poética do Foda-se :

    "Pouco me importa.
    Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa."
    (Fernando Pessoa)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Tzigane Ravel.

O violino solo vibra languido
dança de pés descalços
no espaço arenoso,

Perfil de seio ao sol
De solo são
De solto salto

Derrama-se nas notas o peso quente
liquido
suposto da solidão.

O Piano que se apresenta
jovem, expõe-se ao pedido
é devorado, se move a decifrar
a sensualidade desértica
de quem o chama

Apresentam-se crús
mal mesclados,
Reconhecendo-se a táteis acordes
Brincam, com passadas de mãos sonoras
e línguas harmônicas
Lambem-se.

Ela o puxa, ele cede
Ele seduz, ela permite
Tornam-se espirais
Até o agudo gemido da nota

Debatem-se, cada qual com sua furia e som
sua vida,
seu discurso sobre a circular passagem,
Beiram-se na escura miragem
de uma escada caracol
No abismo das suas cordas
emblemam-se.
Deixam-se quedar.

Depois, vibram em saltar
correm
desvarios do tempo
com o susto
o outro sustenta os passos
de quem se apressa
querem molhar a trama
agora ambos
para o mesmo lado,
Miram o horizonte,
com um certo Amor,

Na ofegação dos corpos magnéticos
de madeira e sonhos
Eles juntos mergulham na satisfação final
de cumprir a grossas paixões o espetáculo.










sábado, 2 de abril de 2016

Saudades.

Do cheiro de amaciante das roupas
das veias das mãos
e do sorrir juntos.