domingo, 28 de outubro de 2018

eleição

No encontro atrasado
abri as portas
e me abstive dois passos do fim
havia o sangue da juventude imperando no meu acaso?
Pois abri a bocarra antes do sono
e gritei:
Ele não!

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Presente de aniversário

Eu nunca senti tão fortemente que a vida pública influencia tanto na nossa vida cotidiana, mas hoje eu sinto, e percebo a sombra grotesca, masculina e covarde que vem imperando com essas eleições, a figura boçal é caricatural, mas o que tem me impressionado, são as bocarras arreganhadas e os dentes cheio de cinismo e fúria que uma parte da população tão demonstrado, existe uma anseio pela ordem expurgando tudo aquilo que é diverso da dureza e da crueza. 
Talvez tudo isso finde sem grandes traumas, talvez a máxima daquilo que passa e o tempo cura se mostre bem verdadeira, e todo esse aperto no peito seja apenas o susto exagerado perante esse levante(ia escrever animalesco, mas esta longe disso) humanamente intragável. 
Meu coração tem estado apertado, e tenho afiada bem meus dentes para um perigo eminente, e mais do que nunca quero os meus comigo, acolhidos em um abraço fechado, se segurando da onda que vem vindo... 

Ontem foi meu aniversário, e contrariando o mau estar geral, comemorei, tirando da alma cada lembrança boa, e abraço gostoso perpetuado no meu peito, cada riso e esperança tola, cada inutilidade poética e sorri, depois me cansei.

E no meio do cansaço, exaustivo, de quem suga da alma a alegria necessária, mas depois queda nas ansiedades, fui presenteada com um bom sonho, tão revigorante, que de manhã compreendi a máxima da Potencia de Nietzsche, a força brotava agora do meu interior, e de um tempo meu não marcado pelo relógio, foi um presente do inconsciente.

Nesse sonho, eu era várias mulheres em tempos diferentes, me transportava de corpo a corpo, e ora era eu, ora era uma irmã, uma mãe ou uma filha. Sonhei que eramos três irmãs (a tríade sempre importa)  e eu era eu em todas elas, e tinhamos uma mãe tão forte, tempestiva, quanto megera e protetora, digna da Baba Yaga do conto russo, ela era forte e tão protetora que parecia um animal com suas três crias, e ela também era eu, e eu era a filha, e também tinha uma filha bebê linda menina, tão delicada, mas só dormia, em um berço pequeno demais para suas perninhas já longas. Fui encarregada de acorda-la, e para isso eu precisava passar por um túnel cheio de água suja com destroços (quem me conhece, sabe bem da minha agonia com lugares fechados) e eu fui, me equilibrando nas mesas que flutuavam, até o fim onde um golfinho (que mais parecia uma baleia) me beliscou a coxa (seria um aperitivo fácil para ele), e me fez ficar esperta e me ensinou a equilibrar pelo teto e sair daquele canto. Quando sai, a eu-mãe, por clamor do eu-filhas, havia mudado, ela era "Boazinha' agora, me abraçou e disse diversos elogios e disse que ao mau tinha defeitos, e nada foi mais assustador que isso, no mesmo momento as três filhas chamaram pela "mãe" desesperadas, e saudosas da megera protetora, aquela que sabe bem arreganhar as presas, e não cede espaço para exploração, quem sabe proteger a si e aos seus, ela a bruxa, a que tem cheira de terra,madeira e força voltou a ser, e a menina do berço acordou sorrindo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Verso Hermetico 32

Não existe caminho de volta
foi o que escreveram no livro
e também na beirada do berço
Trinta e dois voltas pelo espaço
e hoje me vejo mais certeira que o acaso
Sou a ponteira exposta
E não a reticencias sonhada
Tenho uma beleza ancorada
de dias ancestrais
e a vida segue firme seu passo
Hoje mais mulher que ontem
(seja lá o que isso quer dizer...)
Houve o adeus
e então assumi o prumo
de não mais esperar,
acertei as contas
agarrei o proposito e segui
Hoje busco mais a forma que a poética
(dessa ultima tenho os olhares)
hoje preciso dos numeros
dos conselhos
dos planos
sem atrasos
Da métrica bem resolvida
Mas, é segredo contado
que por debaixo dos panos sociais
ainda peço abrigo para a primeira estrela
e a flor atras da grade
me convida para cheira-la
é existe sempre
uma dança distante a me convidar
hoje limpo bem meus passos
antes de aceita-la
e mais que tudo
sei bem onde está meu coração
sigo leal a vida

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Das Gratidões (ou papo de bicho grilo)


Eu tenho a imensa sorte, na qual sou profundamente grata de estar vivendo em um local cheio de pássaros, e de ver tucanos pousando na arvore em frente a janela do quarto. Dever uma cachoeira linda da varanda, de sentir todos os dias de manhã ao abrir a porta aquele frescor perfumado e cheio de vida que vem da mata, de sentir a vida em abundancia em todos os lugares, e de poder ver a imensidão fêmea do mar com toda seu mistério, selvageria e aconchego todos os dias, e para mim, tudo isso é sagrado,e  as vezes sinto vontade de chorar de tanta beleza.
Mas, isso não me impede de me perder nos meus infernos pessoais, ou de me confundir com o mundo de forma tão desnorteadora que até a respiração perde o prumo, e até por isso deveria ser grata, já que é feito de tudo isso a vida: inteira em seus contrates. A empatia e principalmente a compaixão com o sofrimento, do outro e o meu próprio, me mostra que não existe isolamento em canto algum. 

Aniica (a constante mudança) que aprendi no Vipassana, na verdade é o maior ensinamento de todos, em qualquer lugar, sabendo disso ou não, e se ontem eu vivia na periferia de SP, no interior, ou em outros lugares que tive a sorte de ser, e hoje vivo aqui (amanhã, não sei) só me faz perceber que o melhor lugar é onde se vive com alma, e quando digo isso, não me refiro a algo transcendente (necessariamente)mas viver com inteireza de coração, estar presente (todo mundo sabe quando se sente assim) mas, principalmente viver de olhos abertos, reconhecer a desigualdade social, a injustiça, o sofrimento, a pobreza,a  fome, a sacanagem constante de nos martelarem um discurso de meritocracia quando o que é posto para tantos é tão pouco, mas também perceber os cheiros das frutas, das flores, da beleza ao redor, do amor que recebemos, da dedicação que entregamos, da chance de fazermos alguém um pouco mais querido e feliz, de dividirmos o peso da vida e nos multiplicarmos.

As vezes sinto falta de raízes, tão desmotivadas socialmente no tempo em que vivemos, de mitos que me arrepiem, de referencias sábias, de norteamentos... mas de vez em quando a vida sorri mais fácil, e eu reconheço que elas existem e estão nos que amo, no que amo, no que vivi, e sofri, no que vejo, observo, no que me dói e até no que esta fluindo, inclusive no sangue do meu corpo e nessa chuva que cai agora.