domingo, 26 de junho de 2016

Natureza.


         No fundo do meu coração eu tenho uma sensação de que morar em São Paulo não é real, o que parece uma incoerência sendo ela uma metrópole que engole uma grande parte da população,essa maquina gigante que fundamenta tantas vidas, mas ainda sim nada me convence que isso é real...

        Pego o metro, ando naquele esteira, sem conseguir dar um passo a frente, aquele mar de cabeças isoladas, cheiro perturbado, tato indiferente, audição formada por um só zunido, a unica coisa que escapa é a mente que trafega em outro horizonte, o que também não é real... fugir do presente e achar que viver dentro de si é dar um bom rumo ao tempo. Tudo instiga a desejar mais, a te prender mais ali, a cavar com seu proprio tempo a ilusão de estar ali.
        Saio do metro e olho para o céu cheia de fome de olhar as nuvens descontroladas, amansando o tempo e cedendo ao vento suas formas, o sol presente,estrela gigante, aqui mau marca o tempo, chove, e minha pele recebe sedenta as águas indomadas que não fecham e se abrem quando quero, apenas caem, peço: me permita ser animal.
          Penso em caranguejos que se escondem na areia, adoro caranguejos, correndo de cá para lá e travando com suas patas uma coragem quixotesca com os humanos, penso nos peixes pequenos na beira d'água fluindo em pequenos grupos e depois imagino ao fundo do mar a riqueza de tantos e tantas cores e animais imensos, na superfície a água em movimento não é explicita, sinto ela como um manto vivo azul vestindo o mar profundo de nossos olhos, tudo se movimenta e em cada parte tem vida.
        Os animais que vi me encantam, todos eles. As tartarugas marinhas em especial, sonho com elas,sempre transcendem. As plantas e suas veias e formas, digitais poéticas e profundas das folhas, as raizes enredadas, veias perfumadas de terra. OS troncos brutos cheios de seivas, de fungos, orelhas de pau, cascas e cascas e amontoados de vidas, e aquela luta travada a cada minuto por cada parte que quer viver, nesse ciclo de presa e predador, de caos formado pelos galhos secos que caem sobre as formigas.
       Sinto na memória meus pés pisando as folhas úmidas, e o som dos pássaros diversos, do vento na copa das arvores, sinto aquela presença úmida da mata, meu esforço por superar cada passo, cada risco... eu sei o que amo.
                  Ao pé da escada duas pombas brigam pelo resto de pão, penso no caos, sinto-me pomba, voo perto, mas descanso ao meio fio de uma rua marginal, penso pomba, depois penso asas e voo mais longe, penso ave mais que pomba e saio dali, vai acalmando o meu peito e esqueço minha ingenuidade em debater meu jardim contra o asfalto, deixo-me ser um matagal nú a enfrentar o silêncio da calçada, meu rompante imaginativo subverte a realidade pouco plausível para meu gosto animal, eu era e ponto, o céu e as nuvens e a chuva que caia, era água , água derramada na pele, água que também era meu corpo, não duvidava mais,: desmascarava ao menos naquele minuto a farsa civilizatória.

   (Foto:Alberto Kirilauskas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário