“Moi je t'offrirai, des perles de pluie
venues de pays
”
”
(Jacques Brel)
Deixei as cores escorrerem pela porta e entrar, pingando sorrateiras, mergulhavam a brancura que havia em meu pensamento, fios rastejantes, por fim marés vermelhas, amarelas, desesperadas de alegria, sedentas por tingir novamente meu coração, que vigiava as horas, tentando compreender a noite.
Deixei as cores escorrerem pela porta e entrar, pingando sorrateiras, mergulhavam a brancura que havia em meu pensamento, fios rastejantes, por fim marés vermelhas, amarelas, desesperadas de alegria, sedentas por tingir novamente meu coração, que vigiava as horas, tentando compreender a noite.
Permiti, descolei
a margem e dei passagem para as águas varrerem minhas certezas, e esse poço que
apostava seco, vingou-se em me afogar com todas as vozes do passado e o clamor
acelerado que um dia soltei em meio aos cabelos dela... todas as vezes que nos seus
olhos sombreava a dúvida de estarmos ali, somente eu e ela.
Sabia, e definia o
fim da linha naquele juramento que trocávamos para amarrar o tempo com a
eternidade, traçando com beijos agoniados a boca do efêmero, calando-o
para não amargar a fruta que já nasce sabendo que será terra, e aquele
amor que já é velho por ser de todos os amantes, se fingia novo, recriado
naquele minuto em que nossos olhos se embalavam, o poder indomável de
tê-la ali, crescida raiz em meu peito.
As cores vinham e
se derramavam, sem pudores diante meu rosto esfomeado e sarcástico e eu
não me movia, ao máximo contraia um sorriso estático de quina para repousar meu
desprezo ao seu mundo pueril de cores primárias, débeis, que sabiam elas das
entrelinhas? e das mesclas desformes que haviam no amor? as cores só sabiam gritar,
arrancando do meu silêncio um resmungo senil e da lembrança um desespero rouco
de quem já se rendeu.
Ela era a deriva
dos meus dias certeiros, ela trazia na sua boca os corais e os sons do oceano
que divagavam minha escuridão, ela era o lar e o laço, colorida por essência,
ela era a remota passagem e a miragem desajeitada de quem não se entrega ao
deserto da razão...
As cores me remoíam,
e eu me cobri de teias e me virei seco para o oposto, na parede salva de
branco, fechei os olhos e não sonhei.
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