quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Presente de aniversário

Eu nunca senti tão fortemente que a vida pública influencia tanto na nossa vida cotidiana, mas hoje eu sinto, e percebo a sombra grotesca, masculina e covarde que vem imperando com essas eleições, a figura boçal é caricatural, mas o que tem me impressionado, são as bocarras arreganhadas e os dentes cheio de cinismo e fúria que uma parte da população tão demonstrado, existe uma anseio pela ordem expurgando tudo aquilo que é diverso da dureza e da crueza. 
Talvez tudo isso finde sem grandes traumas, talvez a máxima daquilo que passa e o tempo cura se mostre bem verdadeira, e todo esse aperto no peito seja apenas o susto exagerado perante esse levante(ia escrever animalesco, mas esta longe disso) humanamente intragável. 
Meu coração tem estado apertado, e tenho afiada bem meus dentes para um perigo eminente, e mais do que nunca quero os meus comigo, acolhidos em um abraço fechado, se segurando da onda que vem vindo... 

Ontem foi meu aniversário, e contrariando o mau estar geral, comemorei, tirando da alma cada lembrança boa, e abraço gostoso perpetuado no meu peito, cada riso e esperança tola, cada inutilidade poética e sorri, depois me cansei.

E no meio do cansaço, exaustivo, de quem suga da alma a alegria necessária, mas depois queda nas ansiedades, fui presenteada com um bom sonho, tão revigorante, que de manhã compreendi a máxima da Potencia de Nietzsche, a força brotava agora do meu interior, e de um tempo meu não marcado pelo relógio, foi um presente do inconsciente.

Nesse sonho, eu era várias mulheres em tempos diferentes, me transportava de corpo a corpo, e ora era eu, ora era uma irmã, uma mãe ou uma filha. Sonhei que eramos três irmãs (a tríade sempre importa)  e eu era eu em todas elas, e tinhamos uma mãe tão forte, tempestiva, quanto megera e protetora, digna da Baba Yaga do conto russo, ela era forte e tão protetora que parecia um animal com suas três crias, e ela também era eu, e eu era a filha, e também tinha uma filha bebê linda menina, tão delicada, mas só dormia, em um berço pequeno demais para suas perninhas já longas. Fui encarregada de acorda-la, e para isso eu precisava passar por um túnel cheio de água suja com destroços (quem me conhece, sabe bem da minha agonia com lugares fechados) e eu fui, me equilibrando nas mesas que flutuavam, até o fim onde um golfinho (que mais parecia uma baleia) me beliscou a coxa (seria um aperitivo fácil para ele), e me fez ficar esperta e me ensinou a equilibrar pelo teto e sair daquele canto. Quando sai, a eu-mãe, por clamor do eu-filhas, havia mudado, ela era "Boazinha' agora, me abraçou e disse diversos elogios e disse que ao mau tinha defeitos, e nada foi mais assustador que isso, no mesmo momento as três filhas chamaram pela "mãe" desesperadas, e saudosas da megera protetora, aquela que sabe bem arreganhar as presas, e não cede espaço para exploração, quem sabe proteger a si e aos seus, ela a bruxa, a que tem cheira de terra,madeira e força voltou a ser, e a menina do berço acordou sorrindo.

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