quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Das Gratidões (ou papo de bicho grilo)


Eu tenho a imensa sorte, na qual sou profundamente grata de estar vivendo em um local cheio de pássaros, e de ver tucanos pousando na arvore em frente a janela do quarto. Dever uma cachoeira linda da varanda, de sentir todos os dias de manhã ao abrir a porta aquele frescor perfumado e cheio de vida que vem da mata, de sentir a vida em abundancia em todos os lugares, e de poder ver a imensidão fêmea do mar com toda seu mistério, selvageria e aconchego todos os dias, e para mim, tudo isso é sagrado,e  as vezes sinto vontade de chorar de tanta beleza.
Mas, isso não me impede de me perder nos meus infernos pessoais, ou de me confundir com o mundo de forma tão desnorteadora que até a respiração perde o prumo, e até por isso deveria ser grata, já que é feito de tudo isso a vida: inteira em seus contrates. A empatia e principalmente a compaixão com o sofrimento, do outro e o meu próprio, me mostra que não existe isolamento em canto algum. 

Aniica (a constante mudança) que aprendi no Vipassana, na verdade é o maior ensinamento de todos, em qualquer lugar, sabendo disso ou não, e se ontem eu vivia na periferia de SP, no interior, ou em outros lugares que tive a sorte de ser, e hoje vivo aqui (amanhã, não sei) só me faz perceber que o melhor lugar é onde se vive com alma, e quando digo isso, não me refiro a algo transcendente (necessariamente)mas viver com inteireza de coração, estar presente (todo mundo sabe quando se sente assim) mas, principalmente viver de olhos abertos, reconhecer a desigualdade social, a injustiça, o sofrimento, a pobreza,a  fome, a sacanagem constante de nos martelarem um discurso de meritocracia quando o que é posto para tantos é tão pouco, mas também perceber os cheiros das frutas, das flores, da beleza ao redor, do amor que recebemos, da dedicação que entregamos, da chance de fazermos alguém um pouco mais querido e feliz, de dividirmos o peso da vida e nos multiplicarmos.

As vezes sinto falta de raízes, tão desmotivadas socialmente no tempo em que vivemos, de mitos que me arrepiem, de referencias sábias, de norteamentos... mas de vez em quando a vida sorri mais fácil, e eu reconheço que elas existem e estão nos que amo, no que amo, no que vivi, e sofri, no que vejo, observo, no que me dói e até no que esta fluindo, inclusive no sangue do meu corpo e nessa chuva que cai agora.

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