domingo, 12 de dezembro de 2021

Das três metamorfoses da voz

 Serena minha voz não saiu

Suave pueril

Mal se ouviu

Rouca engasgada

Parecia assombrada

Corpo mal encarnado

Eu cristalina menina

Não canto

Já não sou

Não carrego

Meu amor maiúsculo nem o sonho imaculado

Não trago o suave verso, esse perfume incerto

Essa rosa doce e gentil

Triste aceno em dizer adeus:

Parte.

Elevo o tom

A voz sai mais clara

Mais forte, meio ordenada

Não de oposta ao caos

mas de aposta a resposta sábida

Dois tons

Sem agudez

Firme, não me estranho

sou mulher e sei

Mais floresta que jardim

Sou algo ainda não formado

Mas preenchida

Sem espera

Um incomodo

Não desafinado

Sangue direcionado

Pulsa e retorna

Veia e cadência

Sorrio

Penso em Nietzsche enquanto canto no chuveiro, e revejo que não sou mais camelo, mas sim leão sonhando ser criança.

Respiro

E rio enfim, por saber que ninguém se importa.

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