domingo, 14 de abril de 2019

Minha Filha II - Matryoshka

Hoje andei na mata e senti meu corpo cambalear, era cansaço. Andando na mata do tempo chuvoso, cercado de vida, de folhas que caem e que nascem, de pássaros que passam e que ficam, de gotas pendulando nas folhas, efêmeras e cruciais, senti meu corpo vibrar. Vibração de uma geração inteira no meu útero, senti o sangue quente em sua história percorrer meu corpo, uma sinfonia cigana, com fogueira e pés no chão, de mulheres fortes que alimentam-se de si e alimentam o outro com cada célula que transborda. Hoje andando pela mata, senti a herança dos elementos que deixo com minha filha, de uma canção ancestral, de uma batida tão ecoada que soma e soma a cada geração. É o sangue que queima, na água que cai, no ar que respiro e que ela no meu universo utero sente como o mundo todo. Andando na mata senti minha alma o mundo todo também, ela não isolada, ela e o sempre, ela e minha filha e o tempo, ela e minha mãe, vó e todo uma vida imensa que resiste e encontra fibras para Ser na aridez ou na vastidão.

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