sexta-feira, 14 de novembro de 2014

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Eu peço licença e tiro meus sapatos para entrar no que fui, escorrego uterina nas minhas lembranças que se mostram em folhas soltas, tenho sua espiral em minha vertebra e carrego meu corpo e meu poço como quem traz em si o segredo do tempo de quem nasce e sabe de sua morte.
Tateio com cuidado as frutas maduras do passado, eternamente expostas nessas minhas raizes , meu solo, minha terra, esse eu dissolvido em ramos submersos, que arranco e renasce em outro tempo, sempre em mim, qual era a Vida que estava aqui? e que continua sendo embora tranque portas e dirija meus passos para a estrada?
Sinto saudades, sinto saudades profundas que me envergam as flores, mas porque digo suavidades se o que me tomba é o chão? esse vicio de carne e unha em pintar plumas naquilo que feri, é compreensivel que assim seja, mas eu queria uma vez ser a palavra exposta daquilo que é o tempo.
Mas, não culpo o tempo, sinto carinho por ele, gosto da pele que envelhece, gosto do peso de ser humana, gosto das muitas vidas em uma só, gosto desse arrombo surpreendente que é pulsar. Aceito não saber.

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